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quarta-feira, 12 de junho de 2013

selvagem

O coração batia forte, muito forte. Ela sentia-o com a mesma intensidade
com que sentira aqueles dentes. A dentada. Tudo começara aí, tinha a
certeza.
«Não acredito em bruxas, mas que as há, há!» Na agitação em que se
encontrava, não precisava nem conseguiria longos raciocínios. A
adrenalina dá-nos certezas,
e ela sabia, intuitivamente.
No mês passado tinha ido visitar os pais, no Interior. Viviam numa
fazenda uns bons cinco quilómetros afastados da casa mais próxima, e
muitos mais, sabia
bem, da vila, o primeiro verdadeiro sinal de vida em comunidade. As
noites de Verão eram convidativas, e sem companhia resolveu vagabundear
pelas redondezas.
Não que não fosse uma mulher atraente, no sentido em que atraía as
atenções dos homens à sua volta, mas porque simplesmente não havia
viv'alma, ou melhor,
"jov'alma" ao seu redor.
Apesar de não haver iluminação nas fazendas, exceptuando a que rodeava
as habitações e a estrada, ela não tinha medo. Uma das coisas que mais
gostava quando
vinha "à terra" era que o crime ainda não chegara aqui. Também pouco
havia de valor para o justificar nas fazendas à volta, que se calhar por
isso mesmo
ninguém chamava de quintas, apesar da extensão. Demasiado pomposo.
O único verdadeiro perigo de passear à noite fora das estradas era o de
não ver o caminho. Podia tropeçar numa pedra ou na raiz de uma árvore e
partir
um pé, ou até cair numa vala ou poço. Não seria a primeira. Mas hoje a
Lua Cheia brilhava no céu e iluminava os possíveis perigos do caminho. E
também
as belezas. Sempre fôra uma rapariga da cidade, mas amava este cantinho
de paz, seu refúgio. A Lua só não iluminou o verdadeiro perigo desta
noite. No
entanto, tinha sido avisada. Ouvira os longos e angustiantes uivos desde
que perdera de vista as luzes da casa.
Ele estava emboscado atrás de um largo carvalho. Ela devia ter
adivinhado, mas como podia? A única coisa que sabia era que se sentia
aliviada por ter deixado
de ouvir aqueles uivos enervantes. Mas ao abeirar-se do carvalho ouviu
resfolegar. Pensou tratar-se de um cão, talvez até um javali perdido.
Movida pela
curiosidade, eterna inimiga da prudência, avançou para determinar a sua
origem, e mesmo quando ia rodear o obstáculo para poder ver, viu. Ele.
Aquilo.
Não, era decididamente um ele.
Na verdade, ela não viu muito. Apenas uma massa escura, dentro da qual
brilhavam dois globos brancos. E os dentes. Caninos afiados, longos. Os
molares
pareciam outras tantas presas animalescas. A melhor analogia teria sido
uma serra, contida dentro de uma boca monstruosa. Uma serra afiada. Viva.
Ela viu-a bem. Era só o que conseguia ver enquanto lutava desesperada
contra o seu assaltante. Aquele terrível reflexo do luar nas presas
ameaçadoras.
Era quase hipnótico. Mas ela era uma lutadora. E a certa altura teve a
sua oportunidade.
Enquanto aquela boca resfolegava nos seus ouvidos, procurando feri-la,
quem sabe devorá-la, pedaço por pedaço da sua carne quente e palpitante,
ela sentiu
as pernas livres. O monstro abrira-lhe as coxas de jovem enérgica e
saudável para a imobilizar com o seu peso, o seu corpo. Mas libertou as
coxas o tempo
suficiente. Atirou o joelho para cima e atingiu algo suave, apesar de
firme. O assaltante, surpreso, sentiu a agressão onde menos esperava. E
acusou o
toque. Com um golpe de coxas, atirou-o pelo ar. Não era leve, mas o
golpe fora terrivelmente forte, desesperado.
Ele caiu e rebolou no chão em agonia, uivando fúria impotente. As mãos
agarrando as virilhas revelaram que fora atingido num ponto fraco.
Impressionada
com a forma como eliminara a ameaça, ela não se moveu. Os pés pregados
na terra dura. Até ao novo ataque. Selvagem. O salto de um terrível
predador, sem
piedade. Ela levou um pé atrás. As pesadas botas de campo eram uma arma
de respeito. E ela usou-as. Mas não antes de ser derrubada e sentir o
braço dilacerado
por aquela besta em fúria.
Desta vez atingiu-o pleno no rosto. Ele voltou a simplesmente não cair,
rebolava em frustração e dor. Foi então que ela viu o sangue escuro. Não
nele,
todo o seu inimigo não passava de uma mancha escura. O sangue no seu
braço. Irreal. Toda aquela quantidade de sangue se escoando do seu corpo
e ela ainda
mantinha a consciência. Olhou apavorada para o assaltante e viu sangue
também nas únicas porções visíveis do seu corpo. Os olhos injectados e
nos dentes.
O monstro escorria sangue. Muito sangue. O sangue dela. Mas não sabia
que tinha ganho a batalha. Estranhamente fugiu, num misto de cambalear
com o galope
enérgico de um animal carnívoro. E desapareceu no escuro, rosnando,
envolto no mesmo mistério do seu aparecimento repentino.
Manteve-se imóvel, alerta. Esperava novo ataque. Mas não se repetiu. Até
o resfolegar deixara de se ouvir. E ela aos poucos deixou de poder
contar com
a adrenalina para a manter de pé. Sentia as pernas bambas. Para evitar
cair no chão e na inconsciência, forçou-se a andar. Apesar de lhe
parecer arrastar-se
vagarosamente, em pouco tempo já estava de volta, um caminho que lhe
levara um bom par de horas no anterior passo descontraído de passeio.
Os pais assustaram-se quando a viram, uma mancha de sangue se alastrava
do peito às ancas e ainda lhe cobria todo o braço. O ferimento devia ser
horrível,
mortal. Mas depois de lavada, resumia-se a duas marcas. Nem por isso
menos assustador. Faltava um pedaço de carne do braço e do antebraço.
Nada de muito
fundo ou largo, mas mesmo assim alarmante. Principalmente quando, depois
do inicial curativo, já no hospital, o médico observava os ferimentos.
Tinham
ganho uma cor esbranquiçada. Mau augúrio. Sinal de infecção.
Agora, com o pulsar das artérias nos seus ouvidos... mais, sentindo por
todo o corpo o bombear do sangue, tinha uma lembrança desses momentos.
Não como
uma memória. Mais como um sentido, uma intuição, algo mais primitivo.
A tensão acumulara-se para além do suportável. Ela sentiu a necessidade.
Primitiva. As coxas tensas saltaram por vontade própria. Lançou-se com
fúria para
a frente. Não era nem bem uma corrida. Era um galgar. Como o dele.
Nos dias que se seguiram ao ataque, começou a sentir-se diferente.
Estranha. Alerta. Demasiado viva, consciente do seu corpo. As feridas
sararam mais rapidamente
do que imaginara. Até as cicatrizes se estavam a tornar imperceptíveis.
A amiga comentou que o seu estado novo era natural. Tinham tentado fazer
dela uma
vítima, mas ela recusara. Lutara e ganhara. Ela quis acreditar. Mas
sabia algo mais. Sentia algo mais. Surpreendia-se.
Um dia deu por si a farejar. Aquele odor atraía-a. Entrou no quarto da
amiga e percebeu. Era o cheiro de um corpo. Quente. Suado. Intenso.
Excitada...
A amiga remexia-se num pesadelo e invadia-lhe as narinas. De repente
percebeu. E fugiu, apavorada. Era o cheiro de um sexo de mulher. Húmido
e excitante.
A tremer foi para o seu quarto. Masturbou-se freneticamente, com
violência. Não era a primeira vez, mas não tinha o hábito. E nunca
provocado por uma mulher.
Nunca também com esta urgência. E pela primeira vez penetrando-se, com
uma força quase dolorosa. Violentava o sexo com os dedos, e os dedos com
o movimento
das ancas.
Só na alvorada conseguiu o orgasmo. Forte. Violento. Mordeu uma mão com
a boca, a outra com a vulva. E do fundo da garganta soltou um gemido
rouco. Quase
um uivo. Sentia agora o seu cheiro e sentiu-se aliviada. Não resistiu a
lamber a mão, impregnada dos seus fluidos. Lambeu-a até conseguir na
boca um sabor
mais forte a sexo que na mão. Mas ainda não conseguiu dormir. Não
enquanto a amiga não saísse de casa. Pela primeira vez teve medo de si
própria.
A amiga, mal se levantara e vira que ela ainda dormia, preocupou-se.
Normalmente ela já estaria de saída a esta hora. Ouviu a voz doce,
sedutora, enervante,
chamar o seu nome. Retraiu-se tensa na cama, fingindo dormir. Sabia que
se a amiga a tocasse... nem podia pensar nisso sem os músculos se
retesarem. Felizmente
a outra desistiu. Passada uma hora ouviu com alívio o bater da porta da
rua. Macerou uma última vez a vagina até ao esgotamento e dormiu.
Acordou à tarde pela primeira vez em anos. Desvairada de fome. Devorou o
almoço. Quando acabou, o frigorífico estava quase vazio. Depois, a
culpa. Faltara
ao trabalho. E o medo. Devia estar doente. Nada disto era normal. Então
porque se sentia cada vez mais viva? Ligou a televisão. Os sons e
imagens incomodavam-na.
Envolveu-se no silêncio, à espera. No sofá da sala. Pensando, mas não
conseguindo reter um raciocínio.
De repente a porta abriu-se e ela soube por que esperava.
– Estás bem?
As narinas dilataram-se.
– Ainda estás de pijama? Faltaste ao trabalho?
Remexeu-se desconfortável no sofá. Fez uma expressão de incomodada com
aquela presença. A amiga pareceu não notar.
– Estás doente? Deixa ver.
Acompanhou intensamente com o olhar a palma da mão estendida para a sua
testa. Fechou os olhos relaxada ao seu doce contacto.
– Um bocadinho quente. Não devias estar assim, só de pijama... Fica
aqui. Vou buscar-te um roupão.
A voz acalmava-lhe a perturbação. Olhou agradecida quando a amiga a
envolveu no roupão. Abraçou-a e sussurrou-lhe ao ouvido:
– Obrigada... já estou melhor.
Beijou-lhe o rosto, mas não como antes. Deu por si a repetir beijos,
descer ao pescoço palpitante, ao seio que subia e descia, calma,
pausada, hipnoticamente...
De repente retraiu-se, envergonhada.
– Que foi? Que se passa contigo?
O tom de voz era o mesmo usado para falar com uma criança, ou um
animalzinho de estimação. Em resposta ao seu resmungo queixoso, a amiga
tomou-lhe o rosto
entre as mãos e deu-lhe um chochinho nos lábios. Ela quis-se aninhar
naquele corpo quente. Mas a amiga levantou-se, aconchegou-lhe a roupa e
foi-lhe preparar
a sopa dos doentes.
Nessa noite deitou-se cedo. De novo, não conseguiu dormir. Perturbada,
evitava masturbar-se, porque pensava na amiga. Quando percebeu que
esfregava as
coxas uma na outra, levantou-se, irritada. Deu por si emboscada no
quarto da amiga. Lutando contra aquele desejo. Que aumentava, a
ameaçava. E a impelia
para aquele corpo. Dormia de barriga para baixo, coxas entreabertas. Só
de cuequinhas.
Fugiu para o seu quarto e cedeu. Masturbava-se desesperadamente,
permitindo-se fantasiar livremente com a amiga. Atingindo orgasmo em
cima de orgasmo.
Penetrando-se e fornicando os seus dedos. De coxas cerradas. Até à dor.
Na noite seguinte, o susto. A amiga percebera as suas noites inquietas.
Só não sabia a razão. Nem como ela passava as horas da vigília. E
agravou tudo.
Convenceu-a a dormir naquele quarto impregnado com cheiros quentes. A
princípio estava calma, só levemente perturbada, concentrada no carinho
e não nas
paixões. Fechou os olhos e aconchegou o rosto no colo doce. Mas não
resistiu a esticar a língua.
A amiga sobressaltou-se ao contacto húmido no seu seio. Por momentos
suspendeu a respiração e os afagos no seu cabelo. Ela então sentiu a
invasão. Feromonas
agressivas. Foi compulsivamente atraída para a fonte. Não deixou cair a
cabeça. Atirou-a, com vontade... Mas assustou a presa. Sobressaltada com
o ataque
íntimo, tremeu e gemeu, tensa. E quebrou o feitiço. Mortificada, a
predadora recuou num salto.
– Desculpa querida, acordei-te.
Cravou os olhos na amiga até compreender. Estava ilibada. Era tudo sono.
O desejo, o ataque, a fuga e o choque. Recusou os braços que mais uma
vez se abriam
para ela e fugiu para o seu quarto, para a frenética fornicação
solitária. E não soube que a amiga húmida, olhando para as manchas nas
cuecas, percebeu
que só a debaixo era sua. No monte-de-vénus havia saliva. E se na
consciência não se permitiu, envolta no sono atingiu um prazer asfixiante.
Ela voltou a acordar tarde. Saciada a fome, já não tinha esperanças de
acalmar a perturbação. Passou o dia a esfregar-se. Poderia ter-se
percebido a marcar
o território. Por isso, na casa de banho foi atraída para o cesto da
roupa suja. Encontrou a cuequinha manchada. Sôfrega, levou-a ao nariz e
inalou. Insatisfeita,
levou-a à boca. Sugava-a e masturbava-se. Depois levou-a abaixo e
introduziu-a na vulva, rosnando de excitação. Perdeu a voz e a força das
pernas num orgasmo
longo, agonizante. Só quando acabou de se sentir latejar, tomou
consciência de si. Nua no chão da casa de banho, enrolada no seu corpo,
as duas mãos no
sexo, de onde saía parte da roupa interior da amiga. Aterrorizada, fugiu.
Errou pela noite, tentando cansar o corpo. De madrugada avistou um
jovem. Movia-se num misto de marcha felina e descontraída. Repugnada e
simultaneamente
atraída, perseguiu-o durante o dia, mas não teve coragem de o seguir
para dentro do prédio. Voltou para casa no fim da tarde.
Quando a amiga chegou, ela soube que teria de ser hoje. Ignorou as
perguntas e os protestos. A outra parecia uma amante traída, e seria
assim que a trataria.
Reconquistando-a. Manipulando-a para satisfazer as suas necessidades.
Seguiu-a nos calcanhares por toda a casa. Enquanto se refrescava,
trocava de roupa e cozinhava. Recusou ir para a cama porque sabia que a
amiga queria
que dormisse. Só não resistiu ao seu carinho. No sofá trocavam beijinhos
e acariciavam a pele arrepiada. Poderiam ser mornos mimos fraternais,
mas por
que então se sentiam tão quentes?
O olhar da amiga era medo e excitação. Ela soube-se predadora. E atacou,
forçando-lhe os lábios e penetrando aquela boca. Chupava-lhe a língua e
amassava-lhe
o corpo. Empurrou-a, deitou-se por cima dela e prendeu-a com o seu peso.
Já não a beijava, lambia-lhe a boca. Sufocava-a. Até que foi repelida.
Os protestos
começaram débeis, mas depois foi socada nos ombros. Para trás. E viu-a
sentar-se muito direita. No extremo do sofá.
Fitou a amiga em desafio. Pronta para atacar. Ouvia-lhe distintamente o
troar do coração. Via-lhe o medo nos olhos. E cheirava a excitação.
Continuou imóvel,
hipnotizante ao ver as palmas das mãos estendidas. A amiga acariciou-lhe
o rosto muito docemente, implorando ternura, porque iria ceder.
Decidida, retribuía
a ferocidade com a firmeza do seu olhar. Pegou-lhe na mão, levantou-se e
conduziu-a para o seu quarto. Aquele, onde ela não conseguira mascarar a
presença
da outra fêmea com o cheiro do seu sexo. Ela ia atrás e seguia-lhe o
movimento das ancas.
Pararam em frente à cama. A amiga segurava-lhe o rosto com uma mão, o
polegar traçando as linhas da sua face. Aproximou os lábios. Seguiu-se
um beijo,
sem língua, de ternura. A amiga fechava os olhos e esborrachava os
lábios. Ela permitiu-a continuar. Esperava. A amiga foi-se baixando,
sentando-se aos
pés da cama, conduzindo-a. Romântica, parecia estar vivendo uma antiga e
trabalhada fantasia. O beijo não se interrompera. Ela não deixara,
levando o pescoço
à frente, a cabeça à altura dos ombros em atitude predadora. De repente
surgiu a língua. Só a pontinha, dançando, procurando a humidade por
dentro dos
seus lábios. Titubeante. Sondando. Enervante. Até que não aguentou.
Abriu a boca e devorou a amiga, que recuava timidamente. Ela não tinha
paciência para fantasias românticas. Queria carne. Agarrou-a pela nuca e
forçou-se
na sua boca. Deitou-se sobre ela e forçou-se no seu corpo. Mãos, seios,
coxas. Então mordeu-lhe o lábio. E afastou-se, contemplando o fio de
sangue. Fascinante.
Irresistível. Lambeu-o dardejando a ponta da língua, tingindo os quatro
lábios de vermelho.
Depois foi descendo, aos chupões. No lábio, no queixo, na curva do
maxilar. Abocanhou um seio e o mamilo duro enervou-a. Apertava-o entre a
língua e o
céu da boca. Enlouquecia a amiga, que lhe beijava o cabelo e a testa,
agora com mais paixão. E excitação. Ela sentiu aquela atracção animal
irresistível.
E sabia como aumentá-la. Descendo em chupões pelo corpo da amiga,
deixando um rastro abundante de saliva fresca na pele quente e mordida.
Chegou ao monte-de-vénus e puxou um tufo de cabelos com os dentes,
suavemente, só para causar uma dorzinha excitante. Tentou lambuzar todo
o monte, levando-se
a si e à amiga à loucura. Mas não resistiu àquela vulva molhada em
baixo. Rodeou o clítoris, primeiro com a língua, depois com os lábios,
mas sem lhe tocar.
A amiga já meneava as ancas, impaciente. E por fim mergulhou. Enterrou o
nariz nos pêlos e chupou a vulva babada da amiga, que se contorceu em
êxtase pela
primeira vez. Quanto mais gozava, mais sumo produzia, mais desejo
provocava de ser bebida...
Assim que a amiga se recompôs, sempre romântica, afagou o cabelo dela,
pagando o delírio com carinho. Pensava que tudo tinha acabado. Mas mal
começara.
Ela agora só cheirava, saboreava aquele sexo. Nada mais havia. Era
impossível despegar-se de lá.
Um fio de humidade corria por entre as coxas até ao ânus. Ela teve de
recolher tudo, buscando com a ponta da língua o que escorrera para
dentro do orifício
apertado da amiga. Assim que lhe aflorou o botãozinho rosa, um arrepio
desesperado percorreu todo aquele inebriante corpo. Necessitava de uma
penetração.
Primeiro a língua endurecida. Se lhe tivessem falado antes em linguar um
ânus, toda ela revolver-se-ia em asco, mas agora sugava-o com a mesma
urgência
que a uma vagina. Aquele anel piscava-lhe na língua, implorava por
fornicação. Desflorou-a com um dedo enquanto se voltava a dedicar à
vulva cada vez mais
sumarenta. A amiga voltou a desmanchar-se em um gozo esgotante.
– Mais não, por favor... mais não...
Aquele corpo já pedia tréguas mas ela não parou de atacar. Sugava com
voracidade. Penetrava já dois dedos, até ao fundo. Lambia-os quando os
sentia secos,
magoando a amiga, depois sentia-os através das mucosas, dentro daquele
corpo que só não lhe fugia porque lhe abraçara o rabo com a mão livre,
forçando
a sua invasão.
Ela cada vez mais se irritava com aquele botãozinho de carne inchada que
se lhe esfregava no rosto. Abocanhou-o, lambeu-o, chupou-o, mordeu. A
amiga perdeu
o ar, desesperada, abrindo e fechando as coxas, batendo as ancas no seu
rosto... Até que parou. Estremecia mas não se conseguia mexer. Um
orgasmo longo,
louco, doloroso, assassino.
Ainda assim ela não parou. A amiga recuperou o fôlego para gritar, ainda
com as últimas ondas de energia a pulsarem forte. Começou a gemer num
queixume
doloroso, a carne demasiado sensível. O contacto era já insuportável.
Ela nem se dava conta. Ou não queria saber. Só sorver. A amiga precisou
puxá-la por
debaixo dos braços, afastá-la do seu sexo.
– Mais não, amor... – repetia. – Mais não!
Envolveram-se num beijo molhado de orgasmos. Ela queria continuar a
sugar. Agora a boca sumarenta. Mas a amiga foi descendo por baixo dela,
beijando com
muito amor. Mas também com tensão sexual. Queria retribuir tudo o que
ela lhe fizera. Mas deteve-se chuchando o seu seio, como uma criança. E
embalava-se
para dormir! Ela não podia permitir isso. Não agora. Precisava de
copular. Com força. Já!
Começou a esfregar o sexo nas coxas da amiga. Mole, não queria agir. Mas
cedeu à sua necessidade, e timidamente tocou-lhe os lábios vaginais. Ela
avançou
com as ancas para ser penetrada. A amiga separou-lhe os lábios com dois
dedos, a cabeça de um terceiro entrava na sua vulva. Não era o
suficiente. Claramente.
Agarrou-lhe a mão e esticou-lhe três dedos. Fitaram-se por breves
momentos, antes de se empalar, mordendo o lábio. Ela tinha uma
necessidade violenta que
a amiga não compreendia. Não estava preparada para fornicar. Queria
fazer amor.
Sentada no punho firme, ela cavalgava energicamente. Queria sentir-se
cheia, completamente penetrada. Esfregada ao limite do ardor. A amiga
fitava-a chocada
e ela lançava olhares animalescos de fêmea a ser saciada. A amiga
concluiu que ela precisava de amor. E voltou a chuchar-lhe os seios,
evitando aquele
olhar que a atemorizava. Porque até ela própria começava a sentir os
mesmos desejos.
Empalando-se até aos nós dos dedos da amiga, ela atingiu um orgasmo. Não
o alívio, apenas uma sensação procurada, cada vez mais. Não mudou o
ritmo. Parou
enquanto sentia a descarga, e logo depois continuou, em ritmo diabólico.
A amiga já não lhe conseguia segurar os seios com a boca. Então
baixou-se. Depositou
beijos no monte, no clítoris. Não na vulva, lá estavam enterrados os
seus dedos.
De repente a amiga imobilizou-a e chupou-lhe o botãozinho de carne. Ela
tremeu num orgasmo diferente, mais intenso, sofrido. Nunca tinha
conhecido esta
sensação antes. Normalmente obtinha prazer de uma forma revigorante.
Este era esgotante. A amiga percebeu que ela estava nas suas mãos,
percebeu os seus
pontos fracos. Sádica (ou amorosa) enfiou-lhe também um quarto dedo.
Lambuzou o polegar, e agora toda a mão se distribuía pelas duas
aberturas do seu baixo-ventre.
Duplamente penetrada, a sua carne mais sensível chupada, o rosto já
enterrado no sexo loucamente húmido da amiga, gritava orgasmos separados
por poucos
minutos. Até ao esgotamento. De ambas. A amiga com um gemido arrancado
do mais fundo das suas entranhas. Ela grunhia não a saciedade, mas a
derrota. Acabada
de violentar. Adorara.
Adormeceu assim, o rosto e os sentidos impregnados no sexo da amiga. O
seu sexo latejando levemente, adormecendo também sob os lábios da amiga,
que continuavam
num leve movimento de sucção.
A luxúria destes dias arrastou-as a um doce romance. Continuavam amigas
como antes: falavam do trabalho, da vida, de rapazes, de sexo, do amor;
partilhavam
a casa, o quarto, a cama, palavras, sentimentos. Em três semanas
apaixonou-se pelo amor da amiga. A cama já não era cenário de lutas
selvagens. Com muito
carinho, faziam amor no sentido mais estrito da expressão. Até que a
febre voltou.
Durante a tarde começou a sentir-se inquieta. Não suportava estar entre
quatro paredes. Saiu mais cedo do trabalho. Ao pôr do sol, a tensão.
Músculos rígidos.
Olhar penetrante. Alguns homens pensaram que ela estava a seduzi-los,
mas acabaram por se desencorajar com o mesmo olhar que os atraiu. Era
feroz. De repente
sentiu-se muito só. E quis abraçar essa solidão. Telefonou à namorada
para lhe avisar que chegaria tarde, mas não se apercebeu que a
verdadeira intenção
era ouvir a voz doce. No entanto, temia a sua presença.
Vagueou por horas na cidade. Avistou o jovem que havia perseguido
semanas atrás. Mas estava acompanhado de outra fêmea. Ambos fediam a
sexos húmidos de
desejo. Repugnada pelas suas sensações e desejos lascivos, afastou-se. E
ao passar por um muro alto de tijolos caiados, teve a revelação. A sua
sombra,
gigantesca, projectada no cinzento do muro, era toda negra, com uma
excepção: entre as coxas, onde se sentia pulsar, uma mancha rosa se
avermelhava no
centro. Conteve o desejo de se masturbar, porque se pressentia
inflamada, doeria.
O caminho até casa foi angustiante. Sentia-se a escorrer de excitação
com o roçar das coxas enquanto caminhava. Tinha a certeza de já ter as
calças manchadas,
mas evitou ver.
Em casa, a namorada já dormia. Nua, como se habituaram. Tão doce.
Dar-lhe-ia o alívio de que necessitava. Mas primeiro, aquele odor
embriagante. Abriu-lhe
as coxas e sugou, com prazer mútuo. A namorada acordou já a gemer e com
uma vulva a esfregar-se no rosto brilhante dos sumos de mulher.
Reconheceu o desejo
furioso, e logo a penetrou, os dedos duros esfregando a carne
enlouquecida. Ela só retribuía com a língua. Mas os orgasmos explodiam
com igual vigor nos
dois corpos. Até ao amanhecer.
A sua língua imparável e indiscriminadamente percorria todo aquele sexo.
E fez a namorada sofrer um orgasmo excruciante. Depois de a deixar quase
inanimada,
ainda se esfregou, selvática, impiedosa, no rosto semi-asfixiado. No
último e mais poderoso orgasmo, surpreendeu-se. Pensava que já nada a
assustaria.
Mas temeu pela namorada, com o desejo que sentiu de lhe morder a carne
já vermelha e cada vez mais tenra. Em vez disso, afundou, desesperada, a
boca naquela
vulva, e enquanto urrava as suas paixões, mordeu os seus lábios até o
sangue jorrar sobre o sexo da amiga. Depois ainda a fez sofrer mais um
pouco, enxugando
a mistura de fluidos mais enlouquecedora.
Na noite seguinte quis poupar a namorada ao sofrimento da carne. E
também da alma. Uma rapariga tão ternurenta teria de se ressentir com
toda aquela lascívia
cega, sem sentimentos, de quem tanto amava. De qualquer modo, sabia bem
que precisava de macho. A fornicação com a namorada era dura, mas não
era a de
um macho. Sem se dar conta, procurou onde sabia encontrar um.
Esperou-o à porta da casa. Viu-o sair, encaminhar-se para o parque,
denso de largas árvores. Seguiu-o à distância. Até ele estar só.
Desprevenido. Indefeso.
Depois, o pulsar do coração, nas veias...

***

Eu senti um alerta interior. Gritante. Uma onda de pânico. Inexplicável.
Estaquei para me controlar. Depois ouvi. O galgar... Um animal selvagem
saltou
sobre mim. Caí e rolámos no chão. O céu negro, a terra húmida, aquele
corpo. Ágil. Lutador. Invencível. Inatingível. Excitante!?
Mãos de unhas afiadas entraram na minha camisa. Um puxão e os botões
cederam. Também a minha pele. Rasgada em finos fios de sangue. As mãos
desceram à
braguilha. Não tive tempo de temer. Unhadas no pénis absurdamente
rígido, que só não sangrou protegido pelas cuecas.
Agarrou-me com firmeza e o prepúcio a passar pela glande enrubescida
paralisou-me. Um segundo depois estava encavado até ao fundo de um sexo
palpitante.
Apertado. Frenético. Que se esfregava. Para cima e para baixo. De
repente todo aquele corpo firme, musculada, enrijeceu. Um urro. Um
espasmo em volta do
meu pénis. Eu já tão perto do orgasmo. E depois outro espasmo. Outro. E
outro... Apertavam-me o sexo, principalmente na base. Tão perto.
Doloroso. Evitou-me
a erupção e manteve-me perdidamente enrijecido.
Passado o anti-clímax, vi: uma bela jovem, olhar feroz, cabelos em
fúria, seios pequenos e pontiagudos. De cócoras sobre mim, fossava-se no
meu corpo.
Com a mesma força, brutal. Todo eu era prazer, um início de orgasmo,
aumentando lentamente de intensidade. Sentia-me cada vez mais no limite
da explosão.
De repente, novas contracções à volta da minha carne mais sensível. Eu
já lhe apertava o dorso. Empurrava-lhe os seios para a minha boca. Tão
suaves e
tão empinados! Tremendo em pequenos arrepios, saltando num movimento
endiabrado. Um frémito nasceu-me na base dos testículos. Aumentou,
primeiro lentamente,
depois galopante. Um prazer insuportável.
Finquei-lhe os dedos na carne das nádegas. Engoli um seio. Apertei-lhe o
mamilo rijo entre a língua e o céu da boca. Chupei com todo o pulmão.
Amassei-lhe
as nádegas e investi para cima. Todos os meus músculos tensos. Mais uma
estocada. Cada vez mais fundo. E de súbito a perda do conhecimento. Só
prazer.
Avassalador. Asfixiante. Outra dimensão, em que só esta sensação era
conhecida. Espasmos. Disparados em cada segundo. Arrancados do mais
fundo do meu ser.
Que acabaram por diminuir de intensidade, enquanto me forçava outra e
outra vez para dentro dela. Injectando-lhe o meu prazer. Até ao esgotamento.
O peso dela voltou a fazer-se sentir. As minhas nádegas bateram com
força na terra húmida, enquanto ela me arrancava mais um e outro pulsar
da carne, todo
aquele corpo viscoso e apertado me puxando, depois me esmagando,
enquanto o seu orgasmo continuava. Quando acabou, ela ia desfalecendo
sobre mim. Segurei-a
pelos ombros finos, mas não magros, e vi a marca dos meus dentes no seio
avermelhado.
O ritmo dela só abrandou um pouco. Nunca parou. Agora era mais firme.
Fundo. Depois mais rápido. Em pouco tempo frenético, e de novo nos
arrancava novo
prazer. O meu já não tão poderoso, o dela, aparentemente ainda mais.
Descobri os orgasmos múltiplos. Meus. E da fêmea voraz em cima de mim.
Até que esmoreci.
Vazio. Completamente oco. Eu estremecia em orgasmos angustiantes, secos.
Não tinha mais para dar e amoleci dentro daquela carne tão vibrante.
Ela desmontou-se de mim, sem um queixume. Não havia mais nada que lhe
pudesse dar. Arrastou-se para baixo, babando a minha coxa. E procedeu à
higiene.
Lambia-me o suor do peito, ventre, virilhas. Lavava o esperma misturado
com o seu sumo dos meus pêlos, nas coxas e no sexo. Todo eu brilhava do
que saía
da sua vulva, e agora da boca.
Não me pôs na sua boca. Apunhalava-me a glande sensível. A língua chata
e musculosa percorria-me a extensão do sexo e os testículos. E mais
abaixo. Assustei-me
quando me abria as nádegas. Não permiti aquela língua à volta do meu
ânus, mas enquanto me passava atrás dos testículos, senti-me a pulsar em
reacção.
Ela lançou um olhar de raiva. Engoliu-me de uma só vez e eu sentia a
minha flacidez a ser empurrada de um lado para o outro na sua boca. Até
que fui enrijecendo.
Ela passou a subir e descer, em movimentos curtos. A felação durou muito
tempo, até a minha carne dessensibilizada ganhar uma consistência
satisfatória.
De novo me senti dentro dela. Bamboleava as ancas com uma habilidade
incrível. O seu desejo tornava-a uma amante excepcional, proporcionando
um prazer
suave e firme nos meus sentidos exaustos. Mas esse prazer transformou-me
em pedra. Ela rugiu de satisfação, magoando-me a carne dorida e
sensível, de tão
dura. Montou-me por o que me pareceu horas. Estirado no chão, só então
me senti verdadeiramente violentado. Eu já não queria nada daquilo, só
queria dormir,
muito abraçado a um doce corpo de mulher, em posição fetal.
Mas ela não era doce. Acabou-me num orgasmo amargo. O seu corpo num
frenesim de prazer. Como era possível? A sua vagina pulsava à minha
volta como no início
da violação. Mais! Não parava. Com uma força sobre-humana fincou as
garras no meu dorso e puxou-me, violentamente. Mordeu-me o ombro. Longo.
Fundo. Quase
não sentia a dor. Só o sangue escorrer. Sorvido, e depois do longo
clímax, lambido.
Quando tudo acabou, voltou a lavar-me com a língua, mas desta vez queria
que eu lhe fizesse o mesmo. Admito, senti nojo. Afastei a vulva
encharcada com
a mão. Ela fremeu. Percebi. Esfregava-a e dava-lhe para que ela me
lambesse a mão. Então quis me vingar. Do quê? Não sei, apenas me vingar.
Penetrava de
uma só vez todos os dedos que podia, remexia bem lá dentro, e depois
oferecia-lhe. Ela adorou! Por fim, até para isso me faltaram a vontade e
as forças.
Ela esfregou a vulva encharcada no meu rosto até eu cair num sono
exausto, e provavelmente mesmo depois.

***

Quando chegou a casa ainda fornicou a namorada. Não podia evitá-lo. A
visão e o cheiro da rapariga davam-lhe vontade. Acordou-a e deu-lhe a
provar o meu
esperma no seu sexo empapado.
Na noite seguinte, a namorada chegou, de olheiras fundas. Precisava
dormir mas não quis. Tinha aprendido a desejar ser esfolada pela sua
língua. Tanto,
que tirou folgas no trabalho para se dedicarem todo o dia aos prazeres e
suplícios da cama. Conhecia a voracidade da selvagem, mas nunca pensou
que ficaria
mais exausta só com a cama do que ao trabalhar de dia, e noites sem
dormir. Até que finalmente o corpo cedeu. Dormiu. Como morta.
A selvagem estava feliz, agradecida ao amor e dedicação da amante.
Comovida com a sua fragilidade e esgotamento. E não sentiu mais
necessidade de sexo.
Durante uma tarde. Ao anoitecer já vibrava de ansiedade. Recusava-se a,
como muitas vezes fizera, fornicá-la durante o sono, possivelmente
acordá-la. Sentiu
os limites daquele corpo e preferiu sair de casa. Lembrava-se de um macho...
De emboscada ao apartamento de onde ele saía, uma jovem, bela e
atlética, aguardava. Em vão. Ele despediu-se da morena que o acompanhava
e entrou no carro.
A morena estava só, tão desamparada... Uma vítima carnuda, sumarenta.
Dirigiu-se para o mesmo parque onde violara o macho. O mesmo macho que
deixara o
seu cheiro nesta fêmea. Ela poderia ter seguido a vítima pelo olfacto,
mas não queria tanta distância. Ia mesmo atrás dela. Uma rapariga só não
atrai medos.
A não ser que fitassem os seus olhos.
Numa curva do caminho, a vítima olhou para trás e sorriu. Sentia-se mais
segura acompanhada. Em dois passos ela galgou a distância que as
separava e viu-lhe
o sorriso desaparecer enquanto a arrastava para o breu do mato. A morena
usava uma saia a meio da coxa, sobre as ancas largas. Arregaçou-a, e de
joelhos
afundou o rosto naquelas nádegas generosas.
A vítima estremeceu ao contacto lascivo. Gritou. Tentou fugir. Mas um
braço firme impelia-a àquele rosto que lhe separava as nádegas. E as
coxas, impedindo-a
de pontapear. Uma mão forte forçou-a a dobrar-se. Agarrou-se à casca
dura da árvore para não cair. Parecia-lhe importante manter-se de pé.
Chocada, apercebeu-se
que se tratava de uma violação. Por uma mulher! Quem se lembraria de a
violar com a língua? Onde este mundo vai parar? E por que estaria a
perder a força
nas pernas?
A selvagem adorou o sabor. A porcalhona tinha fornicado e não se lavara.
Penetrou-lhe a vulva, recolhendo com a língua o esperma do macho.
Percebeu que
era recebida com agrado, mas nem queria saber. Esta mulher era tão
fêmea! Ancas largas, traseiro generoso, coxas grossas, sexo grande,
vermelho, intumescido...
E os seios? Segura de que a vítima não fugiria, alcançou acima e
sentiu-se tremer de excitação: tetas fartas, a mão perdia-se, tentando
abarcar um só;
a auréola era larga, o mamilo excitado.
A morena sentia-se mulher em êxtase feminino. Sabia das fantasias do
namorado, e ganhara curiosidade sobre o assunto, mas não tinha coragem
de experimentar.
Imaginara seduzir uma mulher, sussurrar-lhe apaixonadamente ao ouvido.
Beijá-la na boca. Algo não batia certo. Era estranho. Não lhe seria
natural. Assim
era melhor. Fora forçada. Violada não por uma mulher, por uma boca,
objecto. Quase uma masturbação. Começou a empurrar o rabo para trás.
A selvagem sentiu o sexo tremer. Colou os lábios aos que agora lhe eram
oferecidos e chupou o prazer. As coxas grossas retesaram-se, o rabo
estremeceu,
e ela não parou de enxaguar o orgasmo com a língua.
Sentiu-se a tremer. As pernas meio bambas. Para não cair agarrou-se à
árvore de casca áspera, recuperando alguma lucidez. De qualquer modo
estava segura
por aquele abraço forte, que lhe amparava facilmente o peso e a mantinha
vulnerável, aberta. Aquela boca... louca deliciosa!
Já não sentia o esperma dele. Tudo o que saía de dentro da morena era o
seu prazer. Vibrava e babava mais sumo, até já fazia um vai-vem de ancas
para aproveitar
a violação ao máximo. Ela adorou a vulva penugenta, de mulher, aberta,
de cio. Da namorada, ela sugava-lhe a "gatinha", mas este sexo
escarchado sugeria-lhe
termos muito mais brutais. Passava a língua ao de leve num lábio, onde a
penugem acaba e aparece a mucosa húmida, e tinha de a mexer para titilar
o outro
lábio. De repente grudava a boca e chupava directamente a vagina. E a
vítima estremecia. Ou passava a língua de cima a baixo. E ela soltava um
queixume
pelo salto que dera em direcção ao orgasmo. Que acabava por explodir.
Outra e outra vez.
A vítima já sentia a carne muito sensível a um prazer arrancado cada vez
mais fundo. Nunca um homem lhe tinha feito algo parecido! E ela não se
queixava
do namorado. Mas isto! Tão bom... tão intenso! Sentiu-se possuída por
esta louca. O namorado possuía-a com o pénis rijo. Vigoroso. Até ao
fundo. Agarrando-lhe
as ancas e investindo. Isto era diferente. Todo o seu sexo era presa
desta boca insaciável. A língua investia, frenética, dura, áspera,
exaustiva. E ela
fôra agarrada, forçada a se abrir para aquele rosto macio entre as suas
coxas e nádegas. Completamente possuída. Fêmea.
O apelo da carne gritou. Carne entumecida de sangue, tenra. A selvagem
apertou os seios fartos da vítima. Rijos. Inchados. Podia imaginar-lhes
as veias
levemente visíveis sob a pele rosada. Abriu ainda mais a flor húmida à
sua frente, chupou-a com urgência e viu em cima o ânus muito levemente
penugento
contrair-se, pulsando. Corpo tenso. Mais um orgasmo. Abriu bem a boca e
mordeu. Gritos... Fez um chupão entre dentes. Mais gritos. Agora
desesperados.
Depois gemidos. E relaxe. Choro. A vítima caiu por terra, ofegante.
Soluçante. Agarrou-a pelas nádegas e empinou-as. Mergulhou com um rugido.
A vítima tremeu. Agora temia o prazer lancinante que soube, sentiria.
Felizmente a louca esquecia-lhe o clítoris. Queria acalmar-se um pouco.
Depois seria
melhor. Mas todas estas sensações eram novas. De rabo para o ar,
claramente forçada a abrir-se. Entregar-se ao prazer egoísta da
violadora. Mas gozando
tanto... Demais!
Enterrou o rosto entre as mãos e mordeu porque já não aguentava mais
gritar. Não aguentava mais. Submissa, esperava que a louca se saciasse
das suas carnes.
Mas agora sofria. Apesar dos orgasmos. Tudo o que sentia era a sua
força, a sua vida a ser chupada. Uma contínua descarga de energia, que
aumentava, explodia,
a punha dormente, e novamente aumentava...
Enlouquecia. O último espasmo quase a fez perder os sentidos. E isso
seria bem-vindo. Mas a língua só parou depois, muito depois de arrancar
mais queixumes
dolorosos. A quem só tinha forças para implorar em murmúrios, o fim.
Daquela agonia ou da sua vida. Depois de a morder fundo. Outra vez.
Depois de chupar
o sangue que sentia escorrer, e voltar a morder.
Só ao amanhecer acabou. A louca simplesmente sumiu. Num instante deixou
de sentir aquela boca que já parecia fazer parte do seu corpo, da sua
tortura,
do seu prazer. Quando se voltou para vê-la, já lá não estava. Sentou-se
acocorada na relva e chorou. Não sabia porquê, mas não conseguia deixar
de chorar.
E de se masturbar. Introduziu suavemente dois dedos por entre a carne
dorida e embalou-se ao rimo do choro. Até que sentiu falta daquela
língua, apertou
o clítoris entre dois dedos, e atingiu um último orgasmo, num soluço que
lhe tirou o fôlego. Percebeu-se a libertar-se da histeria, e mal
recuperou algumas
forças e lucidez fugiu envergonhada para casa.
Três semanas se passaram. Sei que não posso mais viver como antes. Algo
me espera. Primitivo. Básico. Essencial. A minha vida. Lá terei a
liberdade para
correr, gritar, uivar, caçar... E três companheiras. Que não se assustam
com aquilo em que me tornei. Aquilo que sou. Que sempre fui. Compreendem
os meus
instintos. Partilham-nos. Vou no caminho do luar.

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