BIA E O MORADOR DE RUA
São sete e trinta da manhã. Sei que estou atrasada, tenho de estar na escola às oito e dez.
As provas do semestre iniciam exatamente neste horário. Tomei meu café, sem comer nada. Dou
um beijo em mamãe, que me deu uma grana para o lanche, durante o recreio, e saio
apressadinha, ainda ajustando minhas roupas e a mochila. Se eu for bem depressa, sei que
posso vencer os cinco quarteirões e chegar com folga no colégio.
Não posso dar mole, apesar de minhas notas serem excelentes, quero fechar o semestre com o
melhor aproveitamento de minha classe. Meu nome é Beatriz, e tenho quinze anos e como já
sabem, sou ótima aluna, orgulho de meus país e irmãos. Sou a caçula da casa e todos me
tratam como um bebezinho. Geralmente minha irmã, Eleonora, me dá carona, mas hoje ela está
de folga do seu serviço e pediu que que fosse sozinha para a escola. - Não tem problema, são
poucas quadras, faço isso num piscar de olhos.
Estou com um pouco de medo, pois o tempo está ameaçando chover e eu com a pressa de sair de
casa, nem guarda-chuvas trouxe. Logo a chuva começou a cair, parecendo que São Pedro abriu
com vontade a torneira. É muita água e mesmo sabendo que estou a poucos menos de duas
quadras da minha escola, tive de me proteger da chuvarada, num recuo de um prédio, ainda em
construção, pois ali existia uma espécie de cobertura, provavelmente da obra, abandonada há
uns seis meses.
De onde estava, olhava os carros passando na rua, a uns cincos metros, espalhando água por
todo lado. Tão logo a chuva enfraquecesse eu sairia correndo para a escola. Mas o temporal,
só fazia aumentar. Encolhidinha num canto, tentando me proteger, levei um tremendo susto,
quando vi um vulto, junto à parede, praticamente ao meu lado. Era um morador de rua, que tal
como eu, tentava se proteger da chuva.
O sujeito, um homem barbudo, de meia idade, vestindo trapos, me olhava curioso. Fiquei
receosa e fiz menção de sair do meu canto e ir embora, foi quando ele falou: - Acho melhor a
moça não enfrentar essa água toda, vai ficar ensopada num instante, não tenha medo de mim,
eu não vou morder a moça, sou um sujeito de paz.
Pensando com os meus botões, sou uma covarde, o cara tá apenas se protegendo da chuva...é um
pobre coitado. Depois de alguns minutos, ele voltou a falar: - Meu nome é Tonho, e o seu...
como é o seu nome mocinha? - Beatriz, e estudo aqui pertinho, acho que se eu correr, só vou
chegar um pouco molhada, mas não tem importância nenhuma.
Tá bem, que a moça quer se molhar, o problema é seu! Mas, por favor me dê uns trocados,
estou com muita fome. Enquanto falava ele se aproximou de mim, ficando na minha frente.
Fiquei muito assustada com a sua proximidade e tremendo, lhe disse que lhe daria o dinheiro
pedido. Abri minha mochila e tirei da bolsinha uma nota de cinco reais. Mas quando ia a
colocar de novo na mochila, caiu de minha mão ao chão. Ele rapidamente se abaixou e ia me
entregando, quando viu que eu tinha mais de cinquenta reais na bolsinha. A mocinha tem toda
esta grana e ia me dar apenas cinco reais! Você é uma garota muita sovina, sabia disso?
Este dinheiro é para o meu lanche, pois vou ficar o dia todo na escola…e com cinco reais,
podes tomar um café com pão. Agora se me dá licença, estou indo para a escola. Eu puxei a
bolsinha das mãos dele e fiz menção de me afastar, com as pernas tremendo de tanto medo. Dei
uns três passos em direção à rua, quando ele arrancou minha mochila dos ombros. Você pode ir
embora, mas a mochila fica! Me virei, enraivecida e tentei puxar a mochila de volta. Seu
safado, não vou deixar minha mochila com você de jeito nenhum! Quando vi o olhar enraivecido
dele, soltei a alça da mochila, e ia sair correndo, quando recebi uma tremenda pancada na
cabeça, com um pedaço de madeira e caí de bruços no chão encharcado.
Atordoada, sem conseguir me levantar, vi quando ele abriu a mochila e tirou todo o meu
dinheiro e o celular, depois, se inclinou sobre o meu corpo e tirou o meu relógio, os
brincos e também a pulseirinha que eu usava. Até os meus sapatos o miserável tirou. Botou
tudo dentro de um saco, inclusive a mochila e antes de ir embora, me empurrou, com os pés,
para os fundos da construção e me rolou para uma espécie de vala, cheia de agua e me cobriu
com um montão de restos de madeiras e sarrafos e foi embora.
Ainda bem que a vala não era funda e eu pude manter a cabeça acima da água, uns minutos
depois, quando tentei me levantar, minha visão ficou nublada e não vi nada mais, cai
desfalecida de volta à vala, batendo a nuca na quina de cimento da vala e ali fiquei, sem
sentidos, com todo o corpo mergulhado na fedorenta vala.
Eram mais de 12 horas, quando Lia e Helena, minhas colegas de classe, preocupadas por eu não
ter comparecido às provas, resolveram ligar para minha casa. - Bia nunca faltou a uma prova,
ainda mais que eras as semestrais. - Acho que ela ficou doente, Lia... Vamos ligar para ela!
Dona Marta, aqui é Helena amiga de Bia. Posso falar com ela? Helena...Bia ainda não voltou
da escola! Mas ela não veio as provas de hoje, Dona Marta! Por isso a gente quer falar com
ela!
Pronto estava armado o "fuzuê" do meu sumiço. Durante o resto do dia e a noite, a procura
por mim, foi intensa. Meus pais, irmãos, amigos e colegas, todos saíram a minha procura, até
a polícia foi acionada.
Mas ninguém adivinhava que eu estava bem perto deles, mergulhada numa valeta cheia d'água e
com a cabeça atingida por duas fortes batidas. No amanhecer do dia seguinte, por obra
divina, eu acordei, mas não me lembrava de nada, nem do meu nome e completamente sem visão.
Minha cabeça doía muito, tentei me levantar, mas sem forças, não pude tirar os restos de
madeira de cima e fiquei lá dentro, gemendo de dor e batendo os dentes de frio.
Ao anoitecer, com quase 36 horas, caída na valeta, eu ardia em febre; foi quando percebi que
alguém tirava as madeiras que me cobriam e então pude ver um homem barbudo, que me olhava
surpreso. Era Tonho, o morador de rua. Ele durante o dia, viu todo o "bafafá" ocasionado
pelo meu sumiço e logo percebeu que a moça que todos procuravam, era a garota atacada por
ele.
Minha nossa moça! Eu não sabia que estavas tão machucada...imaginei que você iria acordar e
pedir ajuda, mas pelo que vejo não podes fazer nada disso.
Ele me tirou do buraco e ficou sem saber o que fazer comigo. - Se eu a deixo aqui você vai
morrer! Se a levo para um lugar onde possas ser encontrada, você vai me dedurar. O
maltrapilho não sabia que eu estava sem memória e sem visão e que tinha duas graves
contusões na nuca. Meu corpo tremulava sob o efeito de febre altíssima. Nem senti quando ele
me colocou dentro de um carrinho, destes que eles usam para recolher coisas pela rua e saiu,
me levando para algum lugar.
Quando acordei, muito tempo depois, estava deitada num imundo colchão, colocado sobre o piso
de um barraco. Eu estava sem roupas, apenas coberta por uns trapos, tapando parcialmente
minha nudez. Já não tinha tanta febre e minha visão tinha voltado parcialmente, pois eu via
tudo muito nublado. Não tinha nenhuma noção de onde estava e o que fazia ali e o mais grave,
não me lembrava quem eu era e do meu nome.
Quando Tonho percebeu que eu estava desperta, veio até o perto de mim e perguntou se estava
melhor. - Não me sinto muito bem, tudo está muito confuso! Quem é você? O que estou fazendo
aqui? Quem sou eu? Tonho logo adivinhou que eu tinha perdido a memória e o filho de uma
égua, resolveu tirar proveito disso. - Você se machucou e eu estou cuidando dos teus
ferimentos e você é minha mulher, somos marido e esposa.
Ao anoitecer, ele me deu uma sopa de gosto horrível, mas como eu estava com muita fome, comi
tudo. Depois, veio se deitar no colchão, onde eu estava, dizendo que marido e mulher dormem
juntos. Mesmo sabendo que era a mulher dele, me senti com muito receio de estar deitada com
um homem, que eu nem conhecia direito.
Quando Tonho encostou seu corpo nu em minhas costas e senti o membro dele tocar minha bunda,
no meio de minhas nádegas, tentei me afastar dele, mas com as mãos em volta de meu corpo,
ele espalmava os meus seios e me reteve junto ao seu corpo.
Se eu era a mulher dele, não devia estar com tanto receio se ser tocada, mas eu estava
sentindo uma estranha sensação de que nunca tinha feito aquilo antes. Tonho esfregava, entre
os dedos, os meus mamilos, enquanto lá embaixo, com o membro na entradinha de minha buceta,
numa esfregação lenta, fui gostando da coisa e em pouco tempo fui separando as coxas, para
facilitar o roçar em minha xoxota.
Aquilo estava muito gostoso, e quando ele, me virou de costas e se deitou por cima eu pude
senti as bolas dele tocar mina bunda, abri o que pude as coxas, totalmente entregue. Tonho
me segurou firme pelos seios e com a boca lambendo e beijando meu ombro e pescoço, foi
enfiando lentamente a volumoso pau no meu canal vaginal. Senti muita dor e gritei, parecia
que ele estava rasgando minha bucetinha. Mas quando ele começou a enfiar e sair de dentro de
mim, a dor se transformou em prazer e eu gemia no auge do gozo. Senti quando ele despejou
toda a carga de esperma, lá no fundo, dentro de mim e no mesmo instante, tive um orgasmo.
Deste dia em diante, ele me fodia todas as noites e eu adorava, quando ele me penetrava pelo
cuzinho e ficava alucinada de prazer, quando ele me chupava e eu o chupava também e ele me
disse, que aquilo era um 69. Eu não queria outra coisa na vida, a não ser fazer sexo com
ele. Mas a gente tinha de viver e eu passei a sair, com ele, para pedir esmolas pelas ruas
da cidade. Sem sapatos, vestindo uns trapos, com os cabelos enormes, mais parecendo um ninho
de rato, de tão sujos e embaraçados que estavam, eu sempre conseguia mais esmolas do que
Tonho, ainda mais que eu quase não enxergava nada, tendo de andar com um pedaço de pau,
imitando uma bengala.
Mas alguma coisa não ia bem comigo, minha visão só fazia piorar e as dores de minha cabeça
iam se tornando cada vez mais forte e eu me vi impossibilitada de acompanhar Tonho, a pedir
esmolas pela cidade. Então resolvi que ficaria sentadinha à saída de uma igreja, com a
latinha estendida para os fiéis.
Lia e Helena, num domingo pela manhã, estavam saindo da igreja do bairro depois da missa,
viram uma maltrapilha, sentada nas escadarias da igreja. - Coitadinha...vamos dar uma esmola
para ela? Quando se aproximaram, logo viram que a pedinte era muito moça e que era quase
cega, pois a pobrezinha lhes estendeu a latinha para receber a esmola, para o lado errado. -
Que Deus as abençoes moças!
Helena, ao lado de Lia, se afastou, continuando o caminho, mas algo a fez parar e ficar
Helena, ao lado de Lia, se afastou, continuando o caminho, mas algo a fez parar e ficar
olhando para a maltrapilha. - O que foi Helena? Vamos embora... tenho hora para chegar em
casa! - Sabe o que é Lia... algo naquela moça, me faz lembrar de alguém! Vamos
voltar...quero olhar mais atentamente para ela!
- Moça, meu nome é Helena e a minha amiga aqui é a Lia. Qual é o teu nome? - Eu não me
lembro do meu nome... mas sei que o nome de minha mãe é Marta, é tudo que posso me lembrar.
Lia e Helena se entreolharam, aturdidas e praticamente de joelhos, ficaram olhando, bem de
Lia e Helena se entreolharam, aturdidas e praticamente de joelhos, ficaram olhando, bem de
pertinho, o rosto sujo da garota. - Não pode ser.... não pode ser Bia! - É ela sim, Lia!
Veja bem de perto... tenho certeza.
-Minha nossa Senhora! O que aconteceu com você amiga? - Eu sou amiga de vocês? - É sim e o
teu nome é Bia, Beatriz... está lembrada? - Não sei, não me lembro...minha cabeça dói muito!
- Venha com a gente querida...vamos te levar para a tua casa.
- Helena... e se não for a Bia? - É ela sim, tenho absoluta certeza disso. Eu a conheço
- Helena... e se não for a Bia? - É ela sim, tenho absoluta certeza disso. Eu a conheço
desde pequena e apesar dela estar muito diferente, cega e vestindo estes trapos... é a nossa
Bia.
O retorno de Bia ao seu lar, causou o maior reboliço do mundo, pois depois de 6 meses do seu
misterioso sumiço, sem nenhuma pista que indicasse o que lhe tinha acontecido, todos a
julgavam morta, menos dona Marta, sua mãe, que ainda tinha uma ponta de esperança de
encontrar sua filha querida.
Mas mesmo com a volta de Bia, o mistério continuou, pelo menos em parte, pois a menina não
Mas mesmo com a volta de Bia, o mistério continuou, pelo menos em parte, pois a menina não
se lembrava de nada do que lhe tinha acontecido. Com amnésia total não reconhecia nem os
seus familiares e amigos. O mais grave era o seu estado de saúde, que necessitava de
cuidados especiais e urgentes.
Ficou evidenciado, nos exames, que Bia foi estuprada e que tinha adquirido uma grave DST -
doença sexualmente transmissível - e que devido à falta de cuidados médicos, estava em
adiantado estado inflamatório. Mais o que poderia causa a morte dela foi a contusão cerebral
decorrente de traumatismos direto e violento sobre duas regiões do crânio. O tecido cerebral
foi machucado pelos traumas sofridos e a pressão intracraniana estava atingindo o nervo
ótico. Sua recuperação envolvia delicada intervenção cirúrgica nas áreas atingidas.
Mas com a Graça de Deus, Bia conseguiu ultrapassar todas estas dificuldades e agora, 6 meses
depois, recebeu alta da clínica, apenas com algumas sequelas, tais como a visão prejudicada
necessitando usar grossas lentes e a sua incapacidade de se lembrar de sua vida passada.
Para Bia, suas lembranças tinham início no momento que Helena e Lia a encontraram na porta
de igreja.
Uma grande recepção foi preparada por sua família e por Lia e Helena, para a receber de
volta ao lar. Foi uma coisa meio estranha e um pouco constrangedor, as meninas terem de
apresentar à Bia, todos os seus antigos amigos e colegas. Mas todos foram compreensíveis e
em pouco tempo, ela se sentia à vontade com os seus "novos" amigos.
FIM
Autor: Marcela. Mulher 34 anos
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