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sexta-feira, 8 de abril de 2016

um pequeno espaço para a deficiência visualRSS O erótico, o pornô e a audiodescrição

Outros Olhares
um pequeno espaço para a deficiência visualRSS O erótico, o pornô e a audiodescrição
Publicado por Lucia Maria em 14 de janeiro de 2013
"Mas quem é que faz esse serviço? Coisa horrorosa, isso não é coisa de gente decente, muito menos de mulher! É uma sem-vergonhice, isso sim!", afirmou uma senhora indignada, com outras concordando com a cabeça, ao ouvirem trecho de nossa discussão, em meio a muitas piadas, sobre a audiodescrição em produtos audiovisuais eróticos e pornográficos em uma reunião familiar no começo do ano. Ficou aquele silêncio enquanto eu lembrava, com um certo sobressalto, que no dia anterior havia enviado a dois experts na área (na área da audiodescrição, que fique bem entendido) o modelo de um roteiro erótico (a bem da verdade, um pouquinho mais pesado que o erótico) e que, se estivessem ali e quisessem me chantagear, a hora era essa!
 
O roteiro foi solicitado por uma produtora do Rio de Janeiro há pouco menos de dois anos e novamente no final do ano passado, interessada que está em um gênero em que a audiodescrição inexiste formalmente no Brasil. E ainda combinaram pagar até quatro vezes o valor de mercado por uma suave "voz de travesseiro" que, obviamente, não pode ser conhecida como narradora em audiodescrição: afinal, como fazer AD em um congresso quando, na noite anterior, falava as maiores barbaridades nos ouvidos dos cegos com a mesmíssima voz?! Adeus, credibilidade… Ah, mas eles vão ter de separar uma coisa da outra, ouvi outro dia. Sei… Bom, logo depois da primeira proposta, recusada pelo pornô ser considerado um produto menor e sem importância cultural, comecei, aos poucos e durante um ano e meio, a olhar para o assunto com mais atenção e menos preconceito.
 
Os cegos que consultei informalmente querem filmes pornográficos tanto quanto homens e mulheres que enxergam e tanto quanto todos torcem pela audiodescrição em filmes, novelas, telejornais e minisséries na televisão, todas reivindicações mais do que legítimas. Outra: somos profissionais e não admitimos censura em relação ao nosso trabalho. E mais: a ideia é apenas elaborar um roteiro de audiodescrição e não atuar como atrizes. Então, pronto. Comecei a pesquisar histórias em quadrinhos, filmes e todo tipo de material erótico e pornográfico na internet, tomando o cuidado de minimizar a tela quando chegava alguém, o que não impediu que mais de uma vez vissem e olhassem com aquele sorrisinho e aquela cara de: "Pesquisa, hein? Rã-rã… ". Precisava, principalmente, construir um repertório, encontrar o equilíbrio entre a linguagem que não ferisse os princípios da audiodescrição e, ao mesmo tempo, desse o tom adequado a esse produto. Nem termos formais ou médicos, nem o chulo que despencasse ladeira abaixo. E tudo estava resolvido. Até que um dos experts perguntou: "Você assinaria o roteiro?" Respondi que sim, claro, por que não? Mas, nessa conversa e em mais algumas depois, e tão informais quanto, com dois audiodescritores de São Paulo, fui vendo que a coisa toda pode não ser tão simples assim.
 
Começa que o audiodescritor que entrar no mercado pornô pode, por exemplo, ser discriminado por emissoras de televisão, distribuidoras de filmes e outros contratantes nas áreas de eventos e espetáculos ao vivo, principalmente se houver qualquer restrição ao gênero especificada em manuais de procedimentos internos ou códigos de conduta das grandes empresas. Soube que uma poderosa distribuidora internacional de filmes vetou em um roteiro a descrição de uma negra, temendo processos por racismo, tão comuns em outros países.
 
Um dos audiodescritores questionou a demanda por este gênero: será que tem mesmo tantos cegos interessados nestes filmes? Não se contentariam com o erótico? Uma audiodescritora emendou que mesmo o erótico já é cada vez mais pesado. Outra questão é até onde ir. Qual seria o limite? Depois de algumas modalidades básicas dentro do tema, o trabalho pode ficar cada vez mais constrangedor para muitos profissionais da AD, tantas são as bizarrices e perversões na área. Fora outro constrangimento, o de discutir termos e expressões do gênero com produtores de um meio profissional que, certamente, muito poucos estão dispostos a frequentar. A audiodescritora, inflamada, falava enquanto gesticulava batendo as costas de uma mão entreaberta sobre a palma da outra. O audiodescritor observava, sorrindo, até que a interrompeu e pediu: "Olha, você falando essas coisas e batendo uma mão na outra, assim… não faz isso, não", e todos riram. No final, um deles concluiu que, se entrasse nessa, seria pelo dinheiro mesmo, ao que um terceiro retrucou: "É… as atrizes pornôs dizem o mesmo!".
 
Enfim, longe de ser conclusiva, a questão é apresentada aqui como uma reflexão bem-humorada, com suposições e hipóteses diante de uma única e isolada proposta até agora, em um mercado incipiente que não temos ideia sobre como vai se configurar no país, se é que vai. Reportagem da BBC Brasil, de 9 de junho do ano passado, fala sobre a crise na indústria pornográfica norte-americana, com a concorrência dos conteúdos gratuitos da internet, a mesma que afeta cada vez mais os filmes convencionais e a música no mundo todo. Está aí o quadro.
 
Não pretendo elaborar AD para o mercado pornô neste momento e acredito que durante um bom tempo, mas ainda assim não tenho opinião totalmente formada sobre o assunto: não gostaria de fechar portas em nenhuma área em que a audiodescrição possa ser aplicada, haja ou não grande demanda para ela, e também não gostaria que outras portas fossem fechadas a profissionais sérios por trabalharem com audiodescrição em produtos pornográficos ou em quaisquer outros. Se os bons não fizerem, e a chance é grande, outros certamente o farão. E, infelizmente, já dá para imaginar de que maneira.
 
 
@outrosolharesAD
 
 
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