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sexta-feira, 19 de julho de 2013

Mini novela escrita: A saga de Jeitosinha

Bom dia!

Segue esta mini-novela escrita...

É um texto um pouco longo, portanto é pra ler com calma!

Beijosss para elas e abraços para eles!

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Ambrósio e Marilena já tinham seis filhos, mas a iminência da chegada de um
sétimo rebento criava um clima de tensão no lar. As seis tentativas
anteriores não foram suficientes para realizar o sonho do homem: ser pai de
uma menina. Contínuo num banco de pequeno porte, indivíduo de temperamento
difícil e tendo sido vítima de tortura durante a infância (era obrigado a
se vestir de marinheiro e usar botinhas ortopédicas), Ambrósio vivia como
uma bomba prestes a explodir.

Por isso Marilena nem se espantou quando o marido, com um tom de voz até
doce se comparado ao tratamento habitual que dispensava a família, decretou:
- Se for outro cueca eu te mato, sua vaca!

Para a sorte da pobre mulher, Ambrósio estava no trabalho quando ela entrou
em trabalho de parto. Ao conferir, com a criança ainda nas mãos da
parteira, que se tratava de mais um menino, Marilena chorou compulsivamente.

Dona Nair, a velha parteira, tentou consolá-la com as palavras simples mas
sábias dos humildes:

- ?? depressão pós-parto. Estima-se que ela atinja 10% das puérperas. Ela
pode ser severa e resistente ao tratamento farmacológico, mas o estrogênio
– em doses decrescentes, durante duas semanas, mimetizando o ciclo
ovariano…tem sido eficaz em alguns casos, viu, 'fia' ?

- Não é isso, Dona Nair… – interrompeu a mulher, entre lágrimas. O problema
é que o Ambrósio vai me matar se souber que é outro varão…

Dona Nair era uma mulher experiente. Com um sorriso maroto, sugeriu:
- Se é assim, crie o garoto como se fosse uma menina. Ambrósio nunca saberá
a diferença…

- A senhora acha que isso pode funcionar? – animou-se Marilena.

- Já vi demais… Lembra daquela pivô que jogava na seleção de basquete?

Agarrando-se aquele fio de esperança, a mãe abraçou carinhosamente a
criança e encheu-se de ternura.

- ??… pode dar certo. Até que ele é jeitosinho…

- Jeitosinha, 'fia'… – corrigiu Nair – Jeitosinha!

Conseguirá Marilena levar esta farsa adiante?

Não foi difícil esconder do pai da criança a verdade sobre Jeitosinha.
Ambrósio era um homem conservador e moralista, embora seus atos não
correspondessem à disciplina rigorosa que impunha aos filhos e a esposa.
Por esta razão, ninguém estranhou que desde muito cedo a caçula tenha sido
criada em total isolamento em relação aos seis irmãos, sob o olhar atento
de Marilena.

Para Ambrósio e os vizinhos, a intenção da mãe era preservar a honra e
inocência da filha. A menina era o tesouro de seu pai. Sem contato íntimo
com outras crianças, a própria Jeitosinha cresceu desconhecendo sua real
condição de travesti. Os traços finos da criança colaboravam, e quando a
adolescência chegou, Marilena passou a misturar hormônios femininos ao
Biotônico Fontoura que dava diariamente a menina, com resultados
surpreendentes.

Aos 20 anos, Jeitosinha era não apenas uma mulher, mas a mulher mais bonita
do bairro. Foram raros os incidentes que ameaçaram revelar o segredo de
Marilena. O mais grave aconteceu quando a menina tinha 15 anos. Era uma
tarde de Domingo quando Arlindo, o irmão mais velho, entrou na sala
gritando:
- Eu vi a Jeitosinha fazendo xixi em pé! Eu vi a jeitosinha fazendo xixi em
pé!

Com presença de espírito, antes mesmo que Ambrósio raciocinasse sobre a
frase, Marilena deu um safanão no rapazote:
- Espiando sua irmã no banheiro, não é, safado?

Diante da possibilidade de que a intimidade inocente de sua filhinha
tivesse sido violada, Ambrósio deu uma surra de cinto no pobre Arlindo.
Só depois de muitas chibatadas é que foi cair a ficha:
- Peraí, moleque. Você disse que viu sua irmã mijando em pé? Que história é
essa?

Mas quando Arlindo saiu do coma, uma semana depois, o pai já nem se
lembrava mais da pergunta formulada segundos antes de ele perder os
sentidos. Para Ambrósio, tratava-se apenas de uma brinca
eira do jocoso Arlindo. Aqueles foram dias difíceis para Marileusa. Mas a
crise que aquela pobre mãe zelosa enfrentava agora, cinco anos depois, era
muito mais grave. Estava chegando a hora de contar a verdade a filha:
Jeitosinha estava apaixonada.

Jeitosinha resistirá à trágica revelação de sua natureza?

Confira no próximo e emocionante capitulo!

Só a voz de taquara rachada e a sandália número 41 davam indícios do
segredo que envolvia a natureza de Jeitosinha. Mas o que todos viam era uma
loira de 1,70 m, cabelos sedosos até a cintura, cativantes olhos verdes,
cintura fina, coxas grossas e bem torneadas, seios pequenos e um bumbum
perfeito.

"Como ela consegue não ter nenhuma celulite? Parece bunda de homem!",
alfinetavam as amigas.

Era sobre a beleza e feminilidade da filha que Marilena pensava, quando a
chamou para uma conversa definitiva.

- Querida, tenho algo muito importante a lhe revelar.

- O que foi, mamãe? – perguntou Jeitosinha, apreensiva, lendo a angústia
nos olhos da pobre senhora.

Marilena respirou fundo e foi diretamente ao ponto central do problema,
como se tentasse extirpar com um único golpe o câncer moral que atormentava
sua existência:

- Você não é uma mulher.

- Claro que não mamãe!

- Você já sabia, Jeitosinha? – Surpreendeu-se Marilena.

- Claro. Tenho minhas amigas na escola. Embora você nunca tenha me falado
sobre essas coisas, eu sei que não sou mulher.

Marilena respirou aliviada.

- Então você já sabia que…

- Sim, mamãe. Eu ainda sou uma donzela.

Por um instante Marilena deixou-se abater pelo desânimo.

Pensou em sumir, dar cabo da própria vida, qualquer coisa que a livrasse da
enorme decepção que teria que causar a filha. Mas Jeitosinha era uma garota
doce e compreensiva. E mesmo sendo loira, devia ter, mesmo que
instintivamente, a percepção de que não era uma moça como as outras.

- Querida… – Perguntou Marilena – você nunca notou nada de estranho no seu
corpo?

- Bem, mamãe… – respondeu Jeitosinha, encabulada – eu nunca entendi muito
bem por quê eu sinto uma dor horrível entre as pernas quando uso uma
calcinha apertada ou tomo uma bolada no vôlei…

- O que mais, minha filha?

- Hummm… Nas aulas de Educação Sexual eu tenho uma certa dificuldade em
entender por onde é que os homens depositam na gente as tais sementinhas…

Era a oportunidade que Marilena esperava para contar a menina toda a
verdade.

Como Jeitosinha reagirá à constatação de que é espada?

O mundo desabou diante dos olhos de Jeitosinha. Tudo o que ela pensava ser,
todos os seus sonhos de menina e a possibilidade de um orgasmo múltiplo
clitoriano eram subitamente arrancados para sempre de sua vida!

E o que ela diria a Thiago, seu amado, um rapaz de boa índole, do campo,
que voltara dos Estados Unidos só para ficar com ela?

- Nunca vou te perdoar! Por que, mamãe? Por que você fez isso comigo?

A revolta saltava de seus olhos cor de esmeralda, como ondas de fogo.

- Calma, querida! Ainda posso desfazer meu erro! A gente conta tudo para o
seu pai, eu compro pra você umas cuecas, você corta este cabelo, aprende a
cuspir e coçar o saco… Enfim, você recomeça sua vida!

- Mas você não entende, mãe? Eu me sinto uma mulher!!!

- Tá vendo como tudo tem um lado positivo? Você é um traveco e sua mamãe
aceita!

As justificativas de Marilena não estavam ajudando muito.

Desesperada Jeitosinha saiu de casa e vagou… vagou durante horas pelas ruas
da cidade.

Acabou concluindo que o melhor era procurar Thiago e dividir com ele sua
angústia.

"Se ele realmente me ama, vai me aceitar como eu sou", pensou.

O rapaz se surpreendeu ao abrir a porta e encontrar sua amada.
[image: Saga da jeitosinha]

Jeitosinha e Tiago



Pela rigidez moral de sua criação, Jeitosinha jamais iria até o apartamento
de um rapaz solteiro.

- Você aqui, querida?

A moça entrou muda e sentou-se no sofá. Thiago toca seu rosto.

- Você está estranha…é por que eu não te liguei? Desculpe, mas perdi meu
telefone celular!

- Não é isso, Thi… – Sussurra Jeitosinha. Encarando o amado fixamente, ela
pede, com a voz trêmula:

- Me beija! Me beija como se fosse nosso último beijo de amor!

Ondas de calor percorrem os corpos dos dois. Thiago começa a explorar o
corpo da amada com as mãos, numa liberdade que nunca experimentara antes.

- Tenho algo importante a lhe dizer Thiago… – diz a bela loira, no exato
momento em que os dedos do rapaz percebem um inesperado volume entre as
pernas de Jeitosinha.

- Já sei, amor… – responde Thiago, abrindo um sorriso.

- Já sabe? – Surpreende-se a moça.

Thiago aperta levemente o pênis da loira.

- Claro, querida! Estou sentindo. Você achou o meu celular!

Será que o Thiago aceitará Jeitosinha? Confira o próximo e emocionante
capítulo!

Desilusão, medo, vergonha. Sentimentos variados dominavam a cabeça de
Thiago quando Jeitosinha lhe expôs sua triste verdade. Sentia que ainda a
amava e até compreendia que ela era a grande vítima desta trapaça do
destino, mas o amor estava isolado por um intransponível muro de aversão.

- Não podemos continuar juntos, meu amor ! Eu sou hetero!

- Mas Thi… Eu continuo sendo a mesma !

- A mesma? Com aquela coisa enorme, que parece um celular Motorolla
tijolão? Não, Jeitosinha. Lamento, mas está tudo acabado entre nós!

"Que somos, senão germes rastejantes num enorme teatro do absurdo?", pensou
a loira, tomada pelo desânimo. Jeitosinha voltou para casa com passos
lentos, como se carregasse o mundo nas costas.

Ao entrar em casa deparou-se com Ambrósio.

- Onde você estava, tesouro? Papai já lhe disse que uma mocinha frágil não
pode ficar zanzando por aí !

Embora fosse um homem violento, Ambrósio era sempre doce e atencioso com
Jeitosinha. Por isso mesmo a filha, até então, o adorara. Mas agora,
sabendo que vivia uma farsa, e que a origem de todo o seu sofrimento era o
medo imposto a Marilena por aquele homem, sentia ânsias de vômito só de
olhar para o seu rosto.

Vingança! Era tudo o que Jeitosinha queria naquele momento! A vingança
penetrou cada pequena veia de seu coração, antes ocupado pelo amor que
sentia pelo Thiago. Controlando o tom de voz e forçando um sorriso,
Jeitosinha respondeu ao pai:

- Estava estudando com umas amigas. Estou com muita dor-de-cabeça e vou me
deitar, papai. A moça se trancou no quarto e tirou da bolsa uma revista
pornográfica, que acabara de comprar numa banca próxima à casa do Thiago.

- Então são assim os homens e mulheres! – disse baixinho para si, enquanto
folheava a publicação.

Completamente nua, viu no espelho que era uma mulher perfeita. Comparou seu
pênis com os dos atores pornôs da revista. Eram muito parecidos, embora o
de Jeitosinha fosse maior. Tocou-se como nunca havia se tocado. Deixou-se
dominar pela libido, livre da repressão imposta pelo pai. Ao deitar-se para
dormir, Jeitosinha estava muito triste, mas não havia perdido a razão de
viver. Ela sabia que tinha uma missão: Destruir Ambrósio, Marilena e Thiago.

Qual será o plano macabro de Jeitosinha?

Dos seis irmãos, só o mais velho não se dava bem com Jeitosinha. Todos os
outros nutriam um enorme carinho pela caçula. Adenair, o sexto filho, um
ano mais velho que a irmã, era o grande amigo e confidente da moça.

- O que foi, Jeitosinha? Você parece distante… – perguntou Adenair, durante
o café da manhã. Jeitosinha percorreu a cozinha com os olhos e
certificou-se de que os dois estavam sozinhos.

- Irmão… Você saberia guardar um segredo muito importante?

O moço gelou por dentro. Embora Jeitosinha não suspeitasse, Adenair também
guardava um mistério. Ele balançou a cabeça positivamente, respondendo à
pergunta.

- Então, vem comigo… A loira puxou o irmão pela mão até o seu quarto.
Trancou a porta e desabotoou a calça jeans.

- Que é isso! O que você está fazendo, Jeitosinha? Sem dizer uma palavra,
Jeitosinha exibiu seu membro masculino a Adenair.

- Não! Não pode ser! Me diz que isso é de borracha e que hoje é Primeiro de
Abril! – reagiu o rapaz.

- ?? o que você está vendo, irmão… Eu sou homem!

- Não, Jeitosinha… Isso aí não quer dizer muita coisa… – o olhar de Adenair
parecia estranho – Eu também tenho um e… e… – Jeitosinha entendeu na hora.
Então não era por acaso que Adenair comprava todos os discos da Celine Dion
e anotava as dicas da Ana Maria Braga.

- Adenair… Você é gay?

- Sim! Minha condição é muito pior do que a sua! – confessou o irmão, entre
soluços – Você pelo menos pode usar aquele vestidinho pink ma-ra-vi-lho-so!

Jeitosinha abraçou Adenair e enxugou suas lágrimas com os dedos.
- Adenair… Só me tira uma dúvida…

- ??, fui eu sim. – emendou o rapaz – Sua Barbie está no fundo da minha
gaveta de meias…
E agarrou-se a Jeitosinha com uma enorme sensação de alívio.

Será que Adenair vai se juntar à irmã no plano de vingança?

Confira no próximo e emocionante capítulo!

Não foi difícil para Jeitosinha convencer Adenair a juntar-se a ela em seus
planos de vingança. Ele sabia que seu pai, violento e castrador, jamais o
deixaria sair do armário. Com Ambrósio morto, um novo horizonte, muito mais
colorido, se desenhava à sua frente.

- Já pensou, Jeitosinha? Vou poder comprar um Ka dourado… Colocar piercings
nos mamilos… Fazer backing vocals no show do Edson Cordeiro! Dançar techno
que nem o mineiro.

Adenair só não estava muito certo sobre a morte da mãe. Marilena sempre foi
uma mulher zelosa de seus filhos, e muito carinhosa com os sete.

- Você acha que o erro da mamãe foi assim tão grave? – perguntou.

- Se eu acho? – indignou-se Jeitosinha – Minha vida foi uma farsa!

- Mas sempre é tempo de recomeçar… Você pode fazer uma operação de troca de
sexo…

- Não é tão simples. Eu gosto de mim como sou! O problema é que o mundo não
está preparado para aceitar pessoas diferentes!

- Pôxa… O mundo aceitou o Michael Jackson! – ainda insistiu Adenair.

Mas Jeitosinha estava decidida.

- A vingança vai começar. Papai será a primeira vítima.

- Qual é o seu plano?

- Amanhã é sábado. Neste dia, à noite, todos os nossos irmãos saem para se
divertir.

Mamãe tem a novena na casa de Dona Nair e papai e eu costumamos ficar
sozinhos em casa.

Adenair ouvia com atenção o plano traçado por Jeitosinha na noite anterior.

- Papai terá uma morte violenta. Sangrenta. Algo tão hediondo que ninguém
suspeitará que o crime poderia ter sido praticado por uma pessoa como eu,
uma jovem loira, maravilhosa e frágil…

- E como eu poderei ajudar? – perguntou Adenair.

Jeitosinha esboçou um sorriso estranho e respondeu, num tom seco:

- Me arranje uma serra elétrica!

Sangue! Morte! Traição! Vingança!

Confira tudo isso e no próximo e mais emocionante capítulo!

Adenair, que era estagiário na Secretaria de Meio Ambiente do município,
conseguiu, sem chamar a atenção, retirar uma moto-serra no almoxarifado da
Prefeitura. Como o dia seguinte seria um domingo, ele teria tempo de limpar
a ferramenta e devolvê-la a seu local de origem antes que dessem pela sua
falta.

Ao cair da noite, ninguém na família poderia imaginar o drama que se
desenrolaria nas próximas horas. Um por um, os irmãos mais velhos foram
saindo, como quaisquer jovens numa noite de sábado. Adenair foi o último a
deixar a casa. Controlando as emoções, despediu-se do pai sem despertar
suspeitas.

Enfim sós, Jeitosinha e Ambrósio assistiam ao telejornal das oito. Ela
usava um vestidinho curto. Balançava provocativamente as pernas, mostrando
toda a extensão de suas coxas bem torneadas. A loira sabia que o pai
moralista logo iria implicar com a roupa.

- Precisa usar um vestido tão curto? Vá já se vestir direito!, ordenou
Ambrósio, apontando para o quarto de Jeitosinha.

Era a deixa que a moça esperava. Ela entrou no seu quarto e reapareceu
poucos minutos depois, causando a última e pior visão que aquele homem rude
jamais tivera. Sua filha, seu meigo tesouro, estava completamente nua,
portando a serra elétrica. Mas o maior espanto de Ambrósio foi constatar a
existência de uma outra ferramenta, pendurada entre as pernas da bela loira.

- N-não pode ser! Não pode ser! O que é isso? – balbuciou o homem, com uma
expressão patética, indicando o bráulio de Jeitosinha.

- Isto sou eu, papai! Eu sou o monstro que você criou!

O som ensurdecedor da serra abafou os gritos desesperado do homem, que de
tão surpreso sequer teve forças para lutar.

Minutos depois, tudo era silêncio e calma. Jeitosinha tomou um banho
demorado, vestiu-se, escondeu a serra elétrica num terreno próximo,
seguindo o plano previamente combinado com o irmão, e dirigiu-se
tranquilamente à casa de uma amiga, deixando montado na sala de sua casa um
cenário dantesco.

Estava encerrada a primeira etapa de sua vingança. Ou pelo menos Jeitosinha
imaginava que sim…

Prepare-se! No próximo capítulo Jeitosinha terá uma grande surpresa!

Passava da meia-noite quando Jeitosinha voltou para casa. Seu álibi foi
perfeito: consumiu as últimas horas estudando Geografia com uma amiga, como
costumava fazer.

Ela estava impressionada com a própria frieza: conseguiu concentrar-se nos
livros e conversar amenidades, como se nada tivesse acontecido. Mas ainda
sentia nas mãos o tremor da serra elétrica. Os gritos de Ambrósio
continuavam ecoando em seus ouvidos. Eram sensações surpreendentemente
gostosas. Arrependimento mesmo, só o de ter perdido o capítulo da novela
das nove. "A mamãe eu matarei na hora do Jornal Nacional", jurou para si
mesma.

As luzes da sala estavam acesas. Viu pela janela os vultos de seus
familiares. Entrou pela porta principal, preparando-se para fingir dor e
desespero ao se deparar com os pedaços de carne e ossos de seu pai
espalhados pela sala. Mas qual não foi o seu espanto ao perceber que não
havia na casa um só vestígio de seu crime hediondo! Quatro de seus irmãos,
inclusive Adenair, estavam assistindo TV, tranquilamente. Sua mãe havia se
recolhido ao quarto.

- Onde está o papai? – perguntou.

- Foi pescar – respondeu Amarildo, o segundo filho de Ambrósio e Marilena.

- Pescar?

- Sim, deixou um bilhete com a mamãe, dizendo que resolveu na última hora e
que volta amanhã à noite.

As belas pernas de Jeitosinha estremeceram e ela sentiu uma estranha
vertigem. Realmente seu pai era dado a estes rompantes e o sumiço não
chegava a espantar ninguém em sua casa. "Será que tudo não passou de uma
alucinação?", questionou-se. Mas não. Observando o revestimento plástico do
sofá onde o crime havia acontecido, percebeu o cheiro de detergente e
marcas de pano, que sugeriam uma limpeza recente. Jeitosinha puxou seu
cúmplice, Adenair, até o quarto.

- O que está acontecendo?

- Eu é que te pergunto! – retrucou o irmão – Você não iria matar o papai?

- Matei! Eu matei! Alguém escondeu os restos, limpou a sala e ainda deixou
um falso bilhete para a mamãe!

Adenair deu um gritinho ansioso e histérico. Jeitosinha esbofeteou-lhe a
face e disse, resoluta:

- Calma. Você já esperou mais de 20 anos. Não acho que seja a melhor hora
pra soltar a franga…

Aguardem próximo capítulo!

Naquela manhã de segunda, a mãe e os sete irmãos sentaram-se juntos para o
café, na longa mesa da copa. Era tradicionalmente o momento em que a
família colocava seus assuntos em dia. Mas um silêncio incômodo pairava no
ar. Jeitosinha sondou cada rosto, buscando em algum deles um sinal que
indicasse quem teria escondido o corpo de Ambrósio. ?? claro que o pai não
retornara da pescaria na noite anterior. Mas porque ninguém parecia se
importar com o fato? Disfarçando o nervosismo, a moça arriscou perguntar à
mãe:

- O papai não voltaria ontem?

- Sim, querida – respondeu Marilena – Mas ele ligou dizendo que uma ponte
caiu e que eles estão isolados na vila onde foram pescar.

- Era a voz dele, mãe? Tem certeza?

- Que pergunta… Claro, minha filha. A ligação estava ruim, mal escutei o
que ele dizia. Mas quem mais poderia ser?

Arlindo, o ciumento irmão mais velho, esboçou um sorriso enigmático, que
Jeitosinha rapidamente captou como um indício de culpa. "Sim! Arlindo! Só
pode ser ele!", pensou. "Arlindo sempre desconfiou de que havia algo errado
comigo. Ele nunca perdoou papai pelo carinho que me dedicava. Ele sabe, por
alguma razão, que fui eu quem matou papai e apagou as evidências como parte
de um plano de vingança! Mas porque esconder o corpo, em vez de
simplesmente me entregar à polícia?". As perguntas atormentavam a mente
limitada de nossa heroína loira. Ela voltou para o quarto, cobriu o rosto
com o travesseiro e começou a chorar baixinho. No princípio, chorava por
medo. Pela confusão que tomara conta de sua vida. Mas logo sua dor se
transfigurou, e Jeitosinha passou a verter seu pranto por saudades do seu
Thiago. Lembrava-se das mãos do amado percorrendo seu corpo. Sentiu um
calafrio e uma onda de excitação só de imaginar o toque suave de seus
dedos. Neste momento, abruptamente, Arlindo abre a porta. Jeitosinha ainda
tem tempo de disfarçar as lágrimas. Mas não a ereção.

- Ahá… Eu sabia! – Bradou o irmão, radiante, enquanto uma descarga de
adrenalina fazia desaparecer do jeans apertado o volume comprometedor.

Conseguirá Jeitosinha escapar da revolta de Arlindo?

Confira mais tarde no próximo e emocionante capítulo!

- Você nunca me enganou, Jeitosinha… – a voz de Arlindo destilava
revolta e ódio.

- Vou contar teu segredo ao papai, assim que ele voltar da pescaria!
Aliás, vou contar ao mundo!

- Contar ao papai? – espantou-se a moça. Então, Arlindo não sabia que o
pai estava morto! Não foi ele quem escondeu o corpo! Jeitosinha estava
tão fragilizada que acabou assumindo sua bizarra condição ao irmão.

- Sim, Arlindo. Sou uma mulher aprisionada no corpo de um homem. Mas
sou a maior vítima desta situação! Eu lhe imploro: não revele o meu segredo!

- Não adianta, Jeitosinha… – retrucou o magoado Arlindo – Toda a
minha vida brinquei com cavalinhos feitos de palitos de fósforo fincados em
batatas, enquanto a princesa tinha os mais caros brinquedos.
Toda a minha vida dormi espremido num beliche, com os pés do Amarildo
tocando as minhas
narinas, enquanto você tinha seu quarto e finos lençóis de seda…
Arlindo agarrou Jeitosinha pelos braços e fitou o fundo de seus olhos.

- Mas o que eu nunca vou perdoar mesmo foi aquela surra que levei
quando descobri a verdade sobre você… -Arlindo tremia de rancor.

- Mas nem eu mesma sabia! – Tentou defender-se Jeitosinha.

- Chega! Chega de suas mentiras!

- Arlindo virou-se em direção à porta. A irmã, desesperada, lançou-se
ao chão e abraçou seus pés.

- Não, Arlindo… Por favor! Eu faço qualquer coisa!

- Qualquer coisa? – O tom do rapaz agora era mais suave. – Comece
mostrando-se para mim. Quero vê-la nua!

Relutante, Jeitosinha livrou-se de suas roupas e revelou seu corpo
perfeito de mulher. Bem, quase perfeito.

- Não é justo… – balbuciou Arlindo, apontando o apêndice que fazia de
Jeitosinha um quadro surrealista – Até neste quesito você ganha de
mim…

- Por favor, não seja rude comigo…

- O que? – espantou -se o moço – Você imaginou que eu quero tocar você?
?? ruim, hein?

- Mas… O que você quer então? – Perguntou a moça, voltando a se
vestir…

- Você vai me render dinheiro, irmãzinha. Muito dinheiro!

O que Arlindo pretende? Como Jeitosinha sairá dessa?

Confira, no próximo e emocionante capítulo!

Jeitosinha não acreditava no que acabava de ouvir. Desde a revelação de seu
trágico segredo, sentia-se num pesadelo sem fim. Não bastasse todo o ódio
em eu oração, o estranho desfecho da morte do pai e a perda de Thiago, seu
amado, agora a nossa heroína era chantageada pelo cruel Arlindo!

- Você quer que eu me venda?

- Sim. – confirmou oirmão, sem um pingo de emoção na voz – Existe um bordel
de luxo aqui perto de casa…Pessoas exóticas como você podem ter um bom
valor no mercado.

- M-mas… Eu sou virgem! Sou inocente! – retrucou Jeitosinha, aos prantos.

- Pois você tem até amanhã para aprender o que precisa.

Arlindo deixou o quarto da loira batendo a porta. Adenair entrou
em seguida, curioso para saber o que acontecera. Jeitosinha
contou resumidamente a história.

- Mas não pode ser! Você precisará matá-lo também! – reagiu o enrustido,
batendo o pezinho nervosamente.

- Sim, mas não poderei fazê-lo agora. Não com o estranho desaparecimento do
corpo de papai. Precisamos desvendar primeiro este mistério – disse
Jeitosinha,
recompondo-se.

- Então você…

- Não resta outra alternativa, Adenair. Terei que me submeter aos
caprichos de Arlindo. E pode ter certeza: amanhã estarei mais pronta do que
ele
pensa!

***

Pela primeira vez desde o rompimento, Jeitosinha voltou àquela noite ao
apartamento do Thiago. Encontrou-o em estado de total desespero,
sorvendo doses e mais doses de uísque barato.

- Você destruiu a minha vida! – Lamentou o jovem.

A loira, usando um vestidinho curto, sentou-se no seu colo. Numa
explosão de luxúria, enfiou a língua na boca de Thiago, antes que ele
pudesse
esboçar qualquer reação.

Num primeiro momento ele retribuiu ao carinho, mas logo lembrou-se de
que estava beijando um homem. Rejeição e desejo se sucediam em ondas
no coração de Thiago. Mas ele havia bebido bastante e amava Jeitosinha…

No dia seguinte, consumada uma louca e completa noite de amor,
a loira acordou e viu Thiago, de pé, contemplando-a . Ela abriu um sorriso,
mas não foi retribuída.

- Você é tão bonita… – murmurou o rapaz, com um semblante que mais
sugeria um lamento que um elogio.

- O que você achou da noite, meu amor?

- Eu… Eu estou confuso… Foi tudo muito diferente… Me vi fazendo
coisas que nunca imaginei ser capaz…

- Calma, amor… – respondeu docemente Jeitosinha – Sente-se aqui ao meu
lado. Vamos conversar melhor sobre isso…

- Bem… – respondeu Thiago, com um sorrisinho sem graça, podemos até
conversar. Mas sentar eu não consigo…

Jeitosinha e Thiago irão se reconciliar?

Confira o próximo e emocionante capítulo de "A SAGA DE JEITOSINHA"

A família finalmente percebeu que Ambrósio estava desaparecido. Ele não
havia voltado da pescaria nem dado sinal de vida. Marilena chamou a
Polícia, que pareceu não dar muita importância à ocorrência. Os dois
policiais fizeram poucas perguntas, anotaram um boletim de forma
burocrática e se foram em poucos minutos, levando uma foto do homem.

Jeitosinha chegou em casa quase na hora do almoço. Os irmãos não perceberam
que ela passara a noite fora, mas sua mãe sim.

- Onde você estava? – perguntou. Jeitosinha ignorou a abordagem.
Sorte sua seu pai não estar por aqui. Ele não ia gostar disso… – insistiu
Marilena, com um tom seco de reprovação na voz. A resposta da filha foi
carregada de ironia:

- O que poderia preocupá-lo, mamãe? O risco de que eu perca a virgindade ou
volte grávida para casa?

Marilena tentou acariciar o cabelo da filha, que afastou sua mão com um
gesto brusco.

- Não me encoste! Eu odeio você! Um fio de lágrima escorreu pela face
esquerda da sofrida mãe.

- Querida… Você é tão jovem… Tem uma vida pela frente! Ainda há tempo de
encontrar a felicidade…

- Como eu poderia ser feliz? Eu sou uma mulher aprisionada no corpo de um
homem!

- Veja o lado positivo… – tentou consertar Marilena – Você não tem tensão
pré-menstrual, não precisa sentar-se em privadas sujas de boate… Mantenha a
calma e a resignação. Você ainda encontrará algum homem que a aceite como
você é!

"Sim", conjecturou Jeitosinha. "Este homem talvez seja Thiago. Mas como ele
estará se sentindo depois de nossa estranha noite de amor?". Ela pensou
durante todo o dia no seu amado, reunindo forças para enfrentar sua
primeira noite no bordel de luxo.

Curiosamente, a expectativa de entregar-se a estranhos não a incomodava.
Desde a revelação de sua condição, ela não se reconhecia naquele corpo. Não
sentia que tivesse que zelar dele.
Eram nove da noite quando Jeitosinha entrou no fusca de Arlindo, rumo à
casa de encontros. O local ficava próximo, mas era preciso percorrer um
pequeno trecho numa estrada pouco movimentada.
Justamente quando passavam pela parte mais escura e deserta do percurso,
uma luz surgida do nada cegou momentaneamente Arlindo, impedindo-o de
dirigir. O rapaz pisou no freio abruptamente. Antes que pudessem esboçar
qualquer reação, as duas portas do carro foram abertas, e o casal foi
retirado de dentro do veículo por mãos poderosas.

Pouco antes de tomar uma descarga elétrica que a faria perder os sentidos,
Jeitosinha pôde ver a face de seus raptores: eram homenzinhos verdes
vestindo estranhos macacões prateados.

Jeitosinha e Arlindo nas mãos de ETs!
Confira amanhã o próximo e emocionante capítulo!" #

Lentamente Jeitosinha foi recuperando a consciência. Nos primeiros minutos,
aquele cenário de ficção científica parecia apenas um sonho estranho. Mas à
medida em que as imagens ganharam contornos e cores – e que aflorou em sua
mente a lembrança dos últimos momentos no carro – um indescritível pânico
tomou conta de nossa heroína.

Seu grito agudo acordou Arlindo que, como ela, encontrava-se atado a uma
chapa metálica, quase verticalmente. A sala estava deserta mas, minutos
depois, duas das criaturas verdes entraram no ambiente.
Mesmo sendo de uma espécie muito diferente, Jeitosinha sentiu que aqueles
seres estavam muito tristes. Seus enormes olhos revelavam esta condição.
Usando um estranho aparelho, que acoplado à boca do extraterrestre
funcionava como um tradutor, a criatura que parecia liderar as demais
dirigiu-se ao casal.

- Creio que lhe devemos explicações…

Jeitosinha e Arlindo estavam paralisados pelo medo. O homem verde continuou:

- Meu planeta está passando por uma crise terrível. Construímos uma
civilização poderosa e avançadíssima. Controlamos todo a nossa galáxia, mas
estamos condenados à extinção.

Os rostos curiosos dos irmãos não moviam um só músculo, enquanto o ET
narrava sua história.

"Ele explicou que, por um capricho da biologia que a ciência não conseguiu
contornar, estava nascendo em seu planeta um número infinitamente inferior
de mulheres, numa comparação com o número dos homens. Pelos cálculos dos
cientistas, em não mais que quinhentos anos seu povo terá desaparecido, a
não ser que se encontre uma alternativa para se reverter o quadro.
Numa análise superficial – continuou a criatura – percebemos que talvez
fosse possível utilizar as terráqueas para gerar nossos filhos. Se a idéia
se confirmasse, nossa intenção era a de exterminar todos os homens e levar
conosco as mulheres. Minha missão veio à Terra com o propósito específico
de, analisando a anatomia femina, abortar ou autorizar a operação.

O homem verde deixou-se desabar numa cadeira, vencido pelo desânimo.

- Mantivemos você sedada por seis horas – disse, dirigindo-se a Jeitosinha
– e descobrimos, depois de estudá-la, que a máquina humana é muito mais
complexa do que esperávamos. Vocês, mulheres terráqueas, são bastante
parecidas com os homens.

Jeitosinha esforçou-se para não demonstrar sua enorme alegria: ao ser
confundida com uma mulher, sem querer ela havia salvado a raça humana da
destruição total!

- Vamos libertá-los e partir atrás de outros mundos. – Encerrou o ser.

Já de volta ao carro, ainda atônita por aquele turbilhão de emoções,
Jeitosinha abraçou seu irmão e inimigo:
- Você entende, Arlindo? Minha vida tem um sentido! O que são nossas rusgas
do dia-a-dia diante desta experiência tão avassaladora?

Arlindo afastou Jeitosinha e esboçou um sorriso pálido.

- ??, irmã. Foi bom. O dia está nascendo e devemos voltar para casa. Mas
como a vida continua, amanhã você estréia no bordel.

O que estes ETs vieram fazer na história? Será que se foram da mesma forma
estúpida com que entraram?
Confira amanhã o próximo e emocionante capítulo!" #

O júbilo de Jeitosinha durou pouco. Se num primeiro momento a idéia de ter
salvo a humanidade era alentadora, horas depois o que a fantástica
experiência lhe causava era mais revolta e dor.
De que adiantava ter salvo o mundo, se não obteria pelo seu ato qualquer
tipo de reconhecimento? Para o restante da humanidade, ela continuava sendo
aquele ser anacrônico, discriminado por fugir dos padrões.

Só uma pessoa na cidade estava se sentindo mais angustiado: Thiago.
Num bairro distante, trancado em seu apartamento, o pobre rapaz refletia
sobre a grande – bota grande nisso – emoção que sentiu em sua primeira
noite de amor com Jeitosinha.

"Será que eu gostei porque era a minha amada?", perguntava-se. "Ou será que
tamanho prazer adveio do fato de que tratava-se de um homem? Sou hetero ou
gay?".

- Quem é você? – Gritou Thiago angustiado, olhando sua imagem no espelho.

Sentia-se sujo. Seus desejos o incomodavam, como se ele tivesse
experimentado a fruta do pecado.
Mas sabia que Jeitosinha era uma vítima, como ele. Ele podia entender que a
namorada era um modelo de virtude e pureza, e que seu gesto, ao seduzi-lo,
era apenas uma grande manifestação de amor!

Por um momento, olhou para o problema sob outra perspectiva, muito menos
dramática: "Sim, Jeitosinha é pura. ?? a minha Jeitosinha. Em nome desta
pureza vale a pena continuar com ela!", concluiu.

Se ela fosse um travesti vulgar… mas não! Ela foi criada como uma mulher,
sob rígidos padrões morais! Quem sabe eles ainda pudessem ter uma vida
juntos, mantendo a condição de Jeitosinha em segredo?

Num fragmento de sonho, Thiago se viu casado com ela, vivendo grandes
noites de amor e criando duas crianças adotadas – Cléverson Luís e Suelen
Aparecida – como se fossem seus filhos biológicos. Pensou em procurar a sua
doce amada naquele mesmo momento e propor a realização do casamento, tão
desejado em tempos menos complicados.

Mas antes precisava enfrentar seu próprio demônio interior. Precisava saber
se o que sentiu naquela noite mágica foi amor ou pura volúpia. Precisava,
enfim, fazer amor com outro travesti e colocar-se à prova!
Thiago resolveu que aquela noite iria a um bordel atrás de respostas. Iria
buscar reviver, com uma vulgar criatura da noite, emoções tão… hã… grandes
quanto as que viveu com sua inocente Jeitosinha.
Mal poderia imaginar a grande surpresa que o esperava…

Confira amanhã o próximo e emocionante capítulo! #

Thiago havia bebido a tarde inteira, buscando no álcool a coragem
necessária para por a prova sua masculinidade. Por isso mesmo, a imagem de
Jeitosinha, naquele bordel de luxo, observando-o em pleno ato de amor com
um travesti, pareceu uma alucinação ou um sonho.
- Amor… Não é nada disso que você está pensando! – disse o rapaz, sem muita
inspiração.
Depois, recuperando a sobriedade, foi tomado por um tipo diferente de
perplexidade.
- Mas… Espera aí… O que você está fazendo aqui? – perguntou Thiago à sua
amada, enquanto a meretriz, prevendo o barraco, saia de fininho.
Cheia de revolta, Jeitosinha disse a primeira coisa que lhe ocorreu para
ferir Thiago:
- O que lhe parece? Pelo visto você prefere as morenas… Mas nós, loiras,
somos muito boas na arte de enlouquecer os homens…
- Não pode ser, meu amor… Diga que é um sonho… Me belisca para eu sentir
dor e acordar!
- Depois do que eu vi pela fresta da porta, tem certeza de que não tem nada
doendo aí? – Alfinetou jeitosinha, cheia de ironia.
- Não! Você não! Não pode ser! Não pode ser! Thiago puxava os próprios
cabelos com violência e rolava pelo chão num desespero patético. Jeitosinha
apenas jogou os cabelos longos para o lado, com aquele gesto superior com
que as loiras costumam descartar os simples mortais, e retirou-se do
ambiente.
Seu coração por dentro estava em frangalhos, mas o que Thiago viu foi a
imagem de uma mulher fria.
"Com passos precisos e a elegância de uma modelo, Jeitosinha atravessou o
corredor e voltou ao escritório de Madame Mary. Lá dentro, tombou de
joelhos e começou a chorar.
- Não pode ser, Madame Mary… Meu amado, Thiago… Um homem tão puro e
íntegro… Aqui! Com aquela… aquela… – a certeza de que não era tão diferente
da exótica morena impedia Jeitosinha de achar a palavra certa.
- Os homens são todos iguais, minha criança – disse Mary, acariciando a
loira. Uns animais capazes de qualquer coisa por um momento de luxúria.
Eles nunca saberão o que é o amor verdadeiro. ?? justamente isso que torna
tão fascinante a nossa arte de sedução…
Jeitosinha levantou os olhos e, agarrando-se às pernas da misteriosa
mulher, implorou:
- Ajude-me, Madame! Ajude-me a ser como você!
- Claro, querida… Claro….
Madame Mary sabia que tinha nas mãos um diamante em estado bruto. Um
diamante pronto para ser lapidado na dor de um coração partido.
A maioria dos leitores que nos escreveram sobre o Folhetim acham que os ETs
não têm nada a ver com a história. Eles ainda vão terminar o que começaram,
depois vão embora para sempre…

Condenados a sair da história pelos leitores deste folhetim, que entupiram
nossa caixa de e-mails com pedidos neste sentido, os Ets finalmente se
preparam para voltar ao seu planeta ameaçado.
- O que você andou fazendo a tarde inteira? – Perguntou um dos membros da
equipe ao chefe da expedição, um cientista brilhante em seu mundo.
- Nada demais… Encontrei os restos de um humano esquartejado e, só para me
distrair, o trouxe de volta à vida… – disse, apontando uma figura no canto
do laboratório.
Toda a tecnologia dos homenzinhos verdes não foi suficiente para impedir
que, visualmente, o resultado final ficasse sofrível. Mas era possível
reconhecer, naquele homem repleto de cicatrizes, as feições de Ambrósio.
- Ele recuperou a memória e a razão?
- Está um pouco confuso ainda… – disse o cientista. – Talvez nunca volte a
ser o que era antes, mas foi divertido brincar de de Deus e inverter a
ordem natural das coisas, antes de deixar definitivamente este mundinho
atrasado. Sabe-se lá o que este monstro fará nesta sua volta à vida…
A nave deixa o homem à beira da estrada deserta e levanta vôo rumo ao
infinito.
Não muito longe dali um cabisbaixo Thiago faz seu caminho de volta para
casa, ainda entorpecido pela descoberta de que sua doce Jeitosinha era uma
garota de programa.
Como se não bastasse, sentia a confusão mental causada pela percepção de
que sua experiência com o travesti no Bordel foi totalmente inconclusiva.
Até o momento em que Jeitosinha interrompeu o ato sexual, ainda não havia
encontrado prazer. Mas era difícil saber como a coisa iria terminar.
"Thiago não tinha pressa para chegar a lugar nenhum. Precisava pensar e,
talvez involuntariamente, acabou passando em frente à casa de Jeitosinha.
Sentiu um nó no coração ao ver a janela do quarto da moça. Saudades de um
passado perfeito e uma profunda revolta por sentir que um futuro feliz
havia sido abortado.
- Thiago?
Por um momento pensou ser Jeitosinha, mas a voz que vinha da varanda escura
da casa era mais grave.
- Adenair?
- Sim… – disse o suave irmão da loira, aproximando-se. – Você não parece
bem… Quer conversar?
Thiago encarou Adenair. Ele nunca havia percebido o quanto o rapaz se
parecia com Jeitosinha!
- Não creio que você possa me ajudar…
- Talvez eu possa… – respondeu o moço, com a voz tremula de emoção e desejo.

Será que Thiago e Adenair… hmmm… Será? E Ambrósio? Vai querer vingança?
Não perca, amanhã, capítulo inédito! #

Ambrósio não conseguia se lembrar exatamente quem ele era. Imagens confusas
de um travesti loiro com uma moto-serra lhe vinham à mente, enquanto ele
reconhecia alguns trechos do caminho. Acabou chegando até a porta de sua
casa, mas não teve coragem de entrar, especialmente porque não tinha a
menor idéia de que lugar era aquele.
Viu que dois homens jovens conversavam, sentados num banco da varanda. O
dia estava quase nascendo. Do outro lado da rua, Ambrósio reconheceu algo
de familiar naqueles rostos.
Mas quem seriam? Aliás, quem seria ele mesmo? O homem subitamente percebeu
que sequer podia lembrar-se de sua própria face. Procurou algum vidro ou
espelho onde pudesse se ver refletido. Numa grande e quieta poça de água,
viu sua cara monstruosa.
Com um grito aterrador correu rumo a um matagal próximo. Estava confuso e
com medo.
Thiago e Adenair ouviram o grito, mas não deram muita importância.
- Você pode se abrir comigo, Thiago. Sei tudo a respeito de Jeitosinha.
- Tudo? – surpreendeu-se.
- Sim… Ela é uma vítima, tanto quanto você…
Pelo comentário, Thiago percebeu que talvez Adenair não soubesse que a irmã
era uma profissional requisitada. "Se ela conseguiu me enganar, porque não
enganaria o irmão?", perguntou-se. Tombando diante da pressão, Thiago
chorou convulsivamente.
Adenair puxou-o em direção ao peito, abraçando-o e acariciando seus
cabelos. Thiago pôde perceber que o toque e o suave perfume do rapaz
lembravam muito os de sua irmã. Sentiu-se confortável por alguns minutos.
"Enxugando as lágrimas, Thiago viu bem de perto os olhos de Adenair, tão
parecidos com os de Jeitosinha. Só então deu-se conta de que algo estranho
acontecia ali: o apoio que estava recebendo, mais físico e mudo do que um
simples diálogo, não é comum entre os homens.
- Adenair, porque você me abraçou deste jeito? – perguntou, temendo a
resposta.
Num matagal a poucos metros, Ambrósio começava a se dar conta de quem era.
Talvez por um bloqueio, causado pela morte violenta ou pelo processo
utilizado para trazê-lo de volta à vida, não associava o travesti loiro à
sua amada Jeitosinha.
Mas já sabia que ele era o chefe daquela casa que reconhecera, e que estava
deformado por alguma terrível razão, a mesma pela qual sentia-se impelido a
manter-se escondido.
Na varanda da casa, Adenair começava sua revelação. Cada palavra
pronunciava doía como um parto.
- Bem, Thiago… Também tenho um segredo…

Será que Thiago e Adenair… hummm… Será? E Ambrósio? Vai querer vingança? As
perguntas são as mesmas de ontem, provando que não é só a novela das oito
que enrola a gente…
Não perca, amanhã, capítulo inédito!" #

- Thiago, eu sempre te amei…
A declaração de Adenair, um desabafo cuspido pelo seu coração angustiado,
deixou o sofrido namorado de Jeitosinha perplexo.
- Não, Adenair… Não é possível! Você é…
Como completar a frase? O que era Adenair? O que era Jeitosinha? Quem era
ele? Quantas certezas jogadas fora! Quanta boiolice repentina,
transformando sua vida num filme de Almodóvar!
- Durante muito tempo sofri em silêncio. Achei que nunca teria coragem de
me expor. Mas desde que soube da condição de Jeitosinha, e percebendo que
você ainda gosta dela, vi que por mais difícil que seja, meu sonho não é
impossível. Me dê uma chance! Você vai me amar também!
- Você não entende, Adenair? Jeitosinha é diferente! ?? uma mulher quase
completa!
- Não tente se enganar, Thiago… – respondeu – Será que no fundo do seu
coração você não tinha a percepção de quem ela realmente era? Você pode
afirmar com certeza que é heterossexual?
Ainda traumatizado pela experiência recente, Thiago percebeu que talvez
Adenair tivesse razão. Mas ele não se sentia apto a penetrar o lodo de suas
emoções. Reagiu rejeitando, com convicção a hipótese de que fosse gay.
- Sim, Adenair. Sou heterossexual. Aliás estou farto de tanta farsa e
dissimulação. Quero encontrar uma mulher de verdade, que não me surpreenda
com nenhum protuberância antinatural!
Thiago deixou para trás um Adenair magoado e arrependido. Sabia que
desejava muito aquele homem, sentia-se mal por tê-lo provocado com palavras
e estava disposto a qualquer sacrifício para tê-lo ao seu lado.
- Você quer uma mulher de verdade, Thiago? – murmurou para si mesmo, já que
o homem se afastara em passos rápidos – Pois eu serei uma. A mais bela,
completa e exuberante que você já viu!
Adenair dormiu pouco aquela noite. Na manhã seguinte, procurou a velha dona
Nair, parteira e amiga da família. Sem constrangimento, o rapaz contou à
mulher o seu drama e lhe fez um pedido inusitado:
- Preciso mudar de sexo. Preciso me tornar uma mulher. Mas não tenho
dinheiro, dona Nair! Por favor, me ajude!
A velha coçou sua cabeça grisalha.
- Sei lá, menino… Nem cesariana eu consigo fazer, quanto mais extrair uma
bingola.
Adenair cobriu o rosto e chorou convulsivamente.
- Mas eu conheço um médico que atende pelo SUS…
Os olhos do rapaz subitamente brilharam de esperança:
- Me leve até ele! Me leve até ele!

Troca de sexo pelo SUS? Bom, não xingue a gente: foi sugestão de um leitor…
Não perca, amanhã, capítulo inédito!

A casa de Jeitosinha era cenário de tempos estranhos. O desaparecimento do
pai parecia preocupar sua mãe e irmãos, mas a loira quase perfeita tinha
outras atribulações.
Quem havia escondido o corpo de Ambrósio e apagado as pistas de que ele
poderia ter sido tirado deste mundo? Quem havia telefonado a Marilena,
fazendo-se passar pelo morto?
Jeitosinha não havia se esquecido de sua vingança. Aliás, também incluira
Arlindo na lista de desafetos. Mas o desfecho insólito de seu primeiro
crime acabara inibindo-a. Era preciso esperar o momento certo. A prioridade
era entender tudo aquilo. E, como se não bastassem tantas reviravoltas do
destino, havia a decepção com Thiago, a descoberta da própria sexualidade,
os encantos misteriosos da casa de Madame Mary…
Enquanto Adenair procurava, no maior hospital público da cidade, o médico
indicado por dona Nair, Jeitosinha voltava ao bordel para uma reunião com a
nova patroa.
Madame Mary fez uma longa explanação sobre a arte do prazer, uma espécie de
preparação teórica para o que viria depois. A expectativa de colocar em
prática aquela técnica apurada excitava Jeitosinha.
Ao término do encontro, encaminhava-se para a porta de saída quando sentiu
dedos suaves tocando seu ombro.
- Oi. Você é nova por aqui? – perguntou uma linda ruiva de sorriso sedutor.
- Sim… – respondeu, timidamente – Mas ainda não estou trabalhando…
- Ah… ?? a nova pupila de Madame Mary… Está gostando da preparação?
- Bem… – disse Jeitosinha – ?? tudo muito excitante, mas não vejo a hora de
entrar em ação.
A ruiva apertou suavemente a cintura da loira e, olhando no fundo dos olhos
de Jeitosinha, propôs:
- Talvez possamos começar agora…
A resposta teve uma ponta de ironia:
- Cuidado, querida. Você pode se surpreender com o que vai encontrar…
- Adoro surpresas! – emendou a ruiva, já puxando Jeitosinha pela mão até um
quarto próximo.
A poucos quilômetros dali, um médico de barba por fazer e jaleco puído
conversava com Adenair.
- Bom, você sabe que o SUS não cobre este tipo de operação. Mas posso dizer
no prontuário que trata-se de uma extração de apêndice. Aliás, não deixa de
ser verdade… – disse o homem, rindo de sua própria piada.
- Eu nem sei como lhe agradecer…
- Tudo bem… Eu jamais teria aprendido obstetrícia sem a ajuda de dona Nair.
Será uma forma de retribuir o favor.
A operação de mudança de sexo foi marcada para o dia seguinte e Adenair
voltou para casa em passos lépidos.
No bordel, Jeitosinha vivia mais uma forte emoção: sua primeira vez com uma
mulher. E deliciava-se com a descoberta das inúmeras possibilidades de
interação entre o côncavo e o convexo, tantas vezes cantadas pelo Rei
Roberto…

Rei Roberto? Côncavo e convexo? Deus, esta novela piora a cada dia!
Não perca, amanhã, capítulo inédito da obra mais trash da Internet!

O sol despencou no horizonte tingindo o céu de vermelho. A silhueta
perfeita de Jeitosinha, seus longos cabelos loiros, seios voluptuosos,
coxas grossas e bumbum empinado, recortados pelo céu do entardecer, eram
uma visão idílica. A moça coçou o saco e cuspiu no chão.
- Pôrra, mais essa agora. Achei muito bom ser homem… – resmungou, no jardim
florido da casa de Madame Mary, ainda sentindo na boca o gosto de sexo.
Da janela, a ruiva que havia sido possuída por Jeitosinha, cujo nome de
guerra era Laura Croft, suspirava diante da visão do mais radiante e
sensual ser humano que já havia conhecido. E olha que ela já tinha transado
com uns três maracanãs lotados.
Em seu apartamento, do outro lado da cidade, o angustiado Thiago olhava
fixamente o revólver que empunhava. Acabar com a própria vida parecia ser a
solução mais plausível para conseguir um pouco de conforto.
Na casa de Jeitosinha, um fio de lágrima escorria pelo rosto de Marilena
enquanto ela lia o bilhete deixado por seu filho Adenair:
"Querida mamãe, sem a presença opressora de papai, não vejo mais razão para
negar minha própria natureza. A verdade é que, embora na teoria tenha dado
à luz sete varões, na prática a senhora tem duas filhas. Me sinto tão
mulher quanto Jeitosinha. Não tive, como ela, o privilégio de desfrutar da
condição feminina, mesmo que por alguns anos de ilusão. Mas estou disposta
a recuperar o tempo perdido. Amanhã terei extirpado de mim,
definitivamente, a minha masculinidade. Quero ser uma mulher total. Então
vou poder conquistar o coração de Thiago, me casar com ele até ter dois
filhos: Claudney Felipe e Luana Piovani Aparecida. Beijos. Adenaíra"
As pernas da sofrida mulher não conseguiram sustentar o peso do corpo.
Sentada no sofá, amassando a pequena nota entre os dedos, Marilena pensava
em como sua vida havia se transformado em questão de dias.
- Meu Deus… O que poderia ser pior? – Perguntava-se, em voz alta.
Neste momento um homem sujo e deformado, metido em roupas fétidas, mancando
e babando, abre abruptamente a porta.
- Querida, cheguei!

Ambrósio está de volta!
Não perca, a seguir, capítulo inédito da obra mais trash da Internet!

Marilena acordou em sua cama, e sua primeira visão foi Aníbal, um dos
filhos menos importantes, daqueles que só fazem figuração na trama.
- Anibal… Que sonho horrível… Pensei que seu pai…
- Não foi um sonho, mamãe. Ele voltou! A mulher gritou em total desespero:
- Não pode ser! Não pode ser!
O filho estranhou a reação. Alheio aos problemas que infernizavam a vida de
Marilena, Adenair e Jeitosinha, sem saber que Ambrósio era a causa de muito
sofrimento, esperava da mãe uma manifestação de alegria.
- Mãe… Você não entende? O papai voltou! Meio caidaço, é verdade, mas está
vivo! Você deveria estar feliz! A mulher esboçou um sorriso forçado:
- Sim, meu amor. Claro. Foi só o susto. Claro que estou feliz.
Neste instante, já de banhozinho tomado e vestindo um velho e confortável
pijama, Ambrósio entra no quarto.
- Marilena…
- ?? você mesmo, Ambrósio? – perguntou a mulher.
- Estou tão deformado assim? Claro que sou eu!
Ambrósio não tinha na voz a rispidez habitual. Parecia fragilizado. Sua
fala era pastosa. Um canto da boca não se mexia e um fio permanente de baba
escorria rumo ao pescoço.
- O que aconteceu com você?
- Não me lembro. Não consigo me lembrar de muita coisa. Vaguei pelas
redondezas e aos poucos as memórias foram voltando… Nossa casa, você,
nossos filhos…
- E sobre o evento que o mutilou?
- Nada. Não me lembro de nada. Só vejo uma cena estranha… Assustadora e
irreal. Não quero falar sobre isso.
Os olhos do homem transmitiam o pavor que lhe causava a simples menção da
cena. E a imagem que vinha à sua cabeça era a do travesti, loiro e nu,
empunhando uma serra elétrica.
No hospital público, Adenair acordava da anestesia.
- C-como foi a cirurgia, doutor? – perguntou ao homem de branco parado ao
seu lado.
- Foi bem. Não consegui fazer um acabamento muito bom. Sabe como é,
cirurgia plástica é uma coisa complicada… Mas eu mesmo já vi muita vagina
mais feia por aí! He…He… – o médico amigo de Dona Nair insistia em seu
humor infame.
- Meu pênis, doutor… O que vocês fizeram com ele? Mesmo detestando o que
ele considerava um corpo estranho, Adenair sabia que era um pedaço seu que
havia sido estirpado. E lhe assustava a idéia de que ele pudesse ter ido
parar numa cesta de lixo hospitalar…
- Fizemos um transplante. Ele agora pertence a um marombeiro adepto do sexo
bizarro, que perdeu o dele quando recebia carinhos orais de um pitt-bull…
- Melhor assim! – Animou-se Adenair – quando recebo alta?
- Amanhã, se tudo correr bem.
"Vai dar tudo certo", pensou o – ou melhor – a jovem. "Vou virar uma linda
mulher, como Jeitosinha, e conquistar o coração de Thiago!"
No seu apartamento, Thiago ainda olhava fixamente a arrma. Sentia-se
ultrajado, perdido, confuso e traído. Mas não conseguia evitar que a imagem
de sua loira amada lhe viesse à cabeça. "Onde ela estará agora?",
perguntava-se.
Mal sabia ele que Jeitosinha, naquele momento, abria a porta de entrada de
sua casa para estar frente a frente com o pai que matara!

Qual será a reação de Ambrósio?
Empolgante! Sensual! Nojenta! A sua novela continua amanhã, em mais um
capítulo inédito.

Por trinta segundos, que pareceram uma eternidade, Jeitosinha e Ambrósio se
encararam fixamente. Ela vinha aprendendo no bordel de Madame Mary tudo
sobre a arte da dissimulação, e conseguiu camuflar o medo, a surpresa e a
confusão mental que lhe causava a imagem, ali na sua frente, do homem que
fez passar desta para a melhor.

A expressão de Ambrósio era inocente, quase infantil. O fio de barba
intermitente continuava a banhar-lhe o queixo. Com sua voz pastosa, após o
constrangedor silêncio, ele perguntou:

- Quem é você?
Jeitosinha suspirou aliviada. Continuava sem entender o que havia
acontecido. As marcas de cortes no rosto e braços de Ambrósio indicavam que
ela realmente o havia ferido, mas talvez não tivesse consumado o crime,
pensou. Talvez tenha sofrido alguma espécie de alucinação durante o ataque
com a serra-elétrica. Talvez Ambrósio tenha conseguido sair da casa, se
arrastando. Mesmo assim, quem limpara o chão e os móveis?
Nada disso era tão importante quanto o fato de que o pai, talvez pelo
choque de ter sido vitimado pela própria filha, não conseguia reconhecê-la.
"Deve ser algum tipo de defesa emocional", concluiu.
Muito mais desconfortável com a situação estava Arlindo. Seu plano de
explorar a irmã se esvaziara, em parte, com a reação do pai ao vê-la. Se
Ambrósio não reconhecia Jeitosinha, e havia perdido sua índole opressora, o
que a irmã teria a temer?
De fato, a moça não tinha mais nada a perder. Depois da decepção com seu
amado Thiago, e todas as emoções que tomaram sua vida, o futuro se
configurava diferente. Ela trocou olhares com Arlindo. Sorriu, superiora, e
ele entendeu o recado.

Jeitosinha estava livre de sua influência maligna mas, curiosamente, não
pensava em abandonar o bordel de Madame Mary.
A misteriosa mulher – que ela mal vira e que não poderia reconhecer sob a
máscara – de alguma maneira fez com que recuperasse sua auto-estima. Na
casa de encontros a aceitavam como ela era. E agora havia ainda Laura
Croft, a linda ruiva que havia despertado estranhas emoções em Jeitosinha.
Ela vinha, aliás, fazendo um esforço sobrehumano para esquecer Thiago, e
tentava se apegar à emoção daquela tarde de prazer como se residisse ali a
sua salvação.
Se Jeitosinha agora via o bordel como uma benção, isso não significava que
ela perdoava Arlindo. Ao contrário, havia planejado para o irmão uma
terrível vingança…
Quanto aos pais, o próprio destino havia se encarregado da punição.
Ambrósio era agora um ser desprezível, débil e deformado. E sua mãe, que
presa a suas convenções sociais jamais encararia a separação, estava
condenada a aturar aquele ser repugnante pelo resto de suas vidas.
Jeitosinha estava imersa neste tipo de reflexão quando alguém bateu à
porta. Arlindo foi atender e deparou-se com uma morena exuberante, de mais
ou menos trinta anos. Ela tinha cabelos negros e lisos, à altura dos
ombros. Os olhos de um azul cristalino contrastavam com a pele clara.
Mostrando um distintivo ela se apresentou:
- Sou a detetive Vanessa, da Polícia Civil. Vim investigar o
desaparecimento de Ambrósio.
Todos na casa, inclusive o próprio Ambrósio, trocaram olhares surpresos.
Do outro lado da cidade, o angustiado Thiago toma sua decisão. Virando 0 38
em direção à própria cabeça, ele finalmente aperta o gatilho.

Ele morreu? Ele morreu?
Descubra amanhã, em mais um capítulo inédito!

A detetive Vanessa sentou-se no sofá que outrora estivera coberto pelo
sangue de Ambrósio. Acendeu um cigarro e cruzou lentamente as pernas, numa
cena que lembrava Sharon Stone em "Instinto Selvagem".
- Creio que você chegou tarde… – apressou-se em explicar Marilena – Meu
marido já voltou.
- Ele é o Ambrósio? – Espantou-se Vanessa, sem conseguir esconder sua
expressão de asco – E o que ou quem fez isso a ele?
- Ainda não sabemos – disse Arlindo.
- Com certeza foi sem querer… – emendou Jeitosinha, um pouco nervosa.
A experiente Vanessa percebeu o ambiente pesado do lar. "Aqui, com certeza,
se escondem grandes segredos", pensou. Fascinada por seu ofício, naquele
momento a bela detetive soube que não teria sossego enquanto não
desvendasse cada detalhe do que já chamava de "Caso Ambrósio".
- Conte-me, meu bom homem. Quem lhe feriu?
Ambrósio tremeu à simples lembrança de fragmentos da cena, que ele sequer
conseguia verbalizar.
- N-não me lembro. Não quero saber. Eu estou bem.
A mulher tocou Ambrósio carinhosamente.
- Procure se lembrar… Estas marcas… Foi, sem dúvida, uma faca ou algo
cortante. Talvez uma lâmina grossa… Uma serra…
- Não! – Ambrósio enconlheu-se, em pânico, protegendo a cabeça com as mãos…
Jeitosinha sentiu um arrepio na espinha. E se o pai recobrasse a memória?
A detetive Vanessa continuou seu trabalho. – Procure se lembrar… Uma
pessoa, uma imagem…
Ambrósio subitamente silenciou-se. Com os olhos fixos na linda autoridade
exclamou baixinho:
- Sim… Eu me lembro de algo. Sim!
- O que? O que? – A excitação de Vanessa era quase sexual.
- Foi ela! Foi ela! – gritou, apontando para Jeitosinha.
- ?? mentira! – Gritou Jeitosinha.
- Cale-se! Deixe o homem concluir seu relato! – disse a detetive. E
voltando-se para Ambrósio:
- Diga, senhor… Ela fez isso com você. E depois?
- Depois homens verdes, numa nave espacial me trouxeram de volta à vida!
A detetive sorriu, constrangida, e abraçou o fragilizado Ambrósio.
- Homens verdes? ?? uma alucinação, sem dúvida… Por hoje é só. Mas me
aguardem. Vou continuar as investigações.

Jeitosinha sentiu-se mais leve. Marilena e Arlindo olharam para o pai e
para a loira, com expressões indecifráveis.
Longe dali, a primeira coisa que Thiago viu foi uma luz branca e intensa. O
rosto de Jeitosinha sorria para ele, emoldurada por centenas de pênis de
todos os tamanhos e formas. – Estou na paraíso! – sussurrou.
Mas o delírio foi interrompido pela penetração contundente de uma agulha de
injeção. De olhos abertos, o confuso rapaz viu um homem de roupa alva,
parado ao lado da cama de hospital onde estava deitado.

- Você nasceu de novo, filho. A bala acertou de raspão a sua fronte.
- O-onde estou?
- No ambulatório de um hospital público.

Thiago percorreu o lugar com os olhos e não acreditou no que viu. Com uma
touca cobrindo os cabelos, adormecida na cama ao lado, encontrava-se
ninguém menos que sua amada.

- Jeitosinha! – Exclamou.
- Só se for nome de guerra… – corrigiu o médico – Ele chegou aqui como
Adenair e agora é Adenaíra…
- Adenaíra? – espantou-se.
- Sim… Ele submeteu-se ontem a uma cirurgia para mudança de sexo. Mas
talvez nunca aproveite sua nova anatomia…
- Porque doutor? Porque doutor?
O homem tomou um longo fôlego antes de explicar a Thiago o drama do
ex-irmão, agora irmã, de Jeitosinha.

Gente, já pensou isso no cinema, com a Cameron Diaz de Jeitosinha?
Mais emoções e podridão amanhã, em um capítulo inédito!

Adenaíra contraiu uma gravíssima infecção hospitalar, filho…
Thiago ficou chocado com a notícia. O Adenair que conhecera era tão alegre,
tão saltitante… "Assim, adormecido e com esta touca, é incrível a
semelhança com Jeitosinha", pensou. Adenaíra abriu os olhos e viu Thiago,
ao seu lado, com as bandagens envolvendo a cabeça.
- O que houve, meu amor? – balbuciou.
- Nada, não se preocupe. Caí da escada – mentiu o rapaz, numa tentativa de
minimizar o sofrimento daquela recém mulher.
- E-eu… f-fiz isso por você, Thiago. Fiz por amor…
Os olhos de Adenaíra voltaram a se fechar.
- Doutor… Quais as chances? – perguntou o angustiado rapaz.
- Depende muito. Ela pode simplesmente se entregar à doença, e as chances
serão mínimas. Mas se ela se apegar a algo que a faça querer viver, e se o
antibiótico em estoque não for de Maizena, talvez ela tenha alguma chance.
- ?? uma pena… Gostaria de poder ajudar.
- Você pode! – disse o médico – Ela o ama! Dê-lhe esperanças!
Thiago continuava perdidamente apaixonado por Jeitosinha. E o que é pior:
por Jeitosinha completa, versão de fábrica. "Se Adenair soubesse que seu
sacrifício ao realizar a cirurgia apenas aumentou o abismo entre nós…",
refletiu. Mas por outro lado, tentar salvar uma vida era motivação
suficiente para fazê-lo recuperar o amor pela sua própria existência,
depois da grande desilusão de encontrar a amada trabalhando num bordel. Via
como algo mais que uma simples coincidência o fato de que estavam juntos
num mesmo ambulatório.
- Tudo bem, doutor. Eu vou ajudar! – concluiu, conformado com aquele jogo
do destino.
Em sua casa, sozinho no quarto, Ambrósio tentava reorganizar suas idéias.
Será que foi mesmo vítima de Jeitosinha? E os homens verdes? Novas imagens
se formaram em sua mente depois do choque diante da detetive Vanessa.
Lembrava-se, remotamente, de uma linda menina loira, que ele amava muito.
Sim, talvez fosse Jeitosinha. Ele começava a se lembrar dela. Para
preservar sua sanidade, Ambrósio estava disposto a não associar a filha
àquela cena dantesca, e simplesmente esquecer o ocorrido.
Mas Jeitosinha não.
Aproveitando-se do fato de que estavam a sós na casa, a moça entrou no
quarto dos pais para conversar com o seu deformado genitor…
- Papai…
- J-jeitosinha? – Ambrósio ainda tinha uma ponta de medo na voz –
D-desculpe-me pelas acusações na sala. Minha cabeça não anda boa.
- Engana-se, velho sórdido. Sua cabeça anda melhor do que você pensa.
Ambrósio foi tomado pelo pânico! Aquele sorriso sarcástico e cruel! Sim,
não fora uma fantasia! Jeitosinha o havia mutilado com a moto-serra!
- Não! – Gritou o homem – Me deixe em paz! Socorro!
- Grite… Ninguém lhe ouvirá.
- Não me mate! – implorou, de joelhos, abraçando os pés da loira.
- Eu não seria tão imbecíl. Não agora, com aquela detetive intrometida por
perto. Mas eu lhe aviso: se repetir aquelas acusações para quem quer que
seja, não pensarei duas vezes antes de consumar o serviço que pensei ter
finalizado…
- Sim, sim… – disse Ambrósio, patético, entre lágrimas – Serei um túmulo!
Mas… Por favor, me ajude… Ainda não sei se estou bem… Me lembro de algumas
imagens completamente surreais… Homens verdes e… e…
Jeitosinha sorriu maliciosamente, abriu o zíper expôs seu enorme mistério.
- Sim, Ambrósio. Pelo menos isto é real. Mas que história é essa de homens
verdes? Que idiota colocaria estúpidos homens verdes em nossas vidas, tão
cotidianas?
O homem sacudiu a cabeça, confuso. Jeitosinha acariciou sua cabeça, fazendo
homem se encolher ainda mais.
- Vou deixar-lhe em paz por enquanto. Mas tenho um pedido, papai: você me
ajudará no meu próximo plano de vingança… .

Lágrimas no hospital! Sexo e violência! Não perca, amanhã, capítulo inédito!

Jeitosinha entregou ao pai uma caneta e um pedaço de papel.
- Assine esta folha em branco…
- M-mas… Filha… Você sabe que eu não tenho nenhuma posse…
- Apenas assine!
Meio vacilante, Ambrósio escreveu seu nome no papel.
- Pronto. Estou livre agora?
- Sim… – disse a moça, sorrindo sarcasticamente – Tenha bons sonhos…
Jeitosinha foi para seu quarto e esperou pacientemente que todos voltassem
para casa. A mãe, que sempre se envolvia nas atividades da Igreja, voltou
de uma novena. Os irmãos foram chegando, um a um, se amontoando em volta da
TV, como sempre faziam. Normalmente Arlindo, mais arredio, preferia ficar
lendo em algum canto da casa, até que todos se recolhessem. Era a hora em
que finalmente tinha a sala só para ele, e ficava zapeando os canais de TV.
No silêncio da madrugada, Jeitosinha aproximou-se de Arlindo, vestida como
uma Diva do cinema. O longo vestido negro, que exibia seus ombros e expunha
parte dos seios… a abertura lateral, por onde podia-se ver furtivamente a
longa extensão de sua perna esquerda… O par de luvas cobrindo os braços até
além do cotovelo… Tudo remetia a inesquecível Gilda.
Arlindo surpreendeu-se com a maturidade da beleza da irmã, que trazia num
copo uma dose de uísque on the rocks.
- Sabe, irmão, às vezes a felicidade chega até nós por caminhos estranhos…
- O que você quer dizer? – espantou-se.
- Quero dizer que encontrei meu verdadeiro eu no bordel de Madame Mary. E
devo isso a você.
Jeitosinha sorveu um gole generoso de uísque e ofereceu o copo ao irmão.
- Beba comigo. Vamos selar com esta dose de uísque a paz entre nós.
Arlindo pegou o copo com desconfiança. Mas a irmã acabara de provar da
bebida, descartando a possibilidade de que ela estivesse envenenada.
Nervoso, ele bebeu todo o líquido do copo, devolvendo-o à loira.
Jeitosinha pegou uma pedra de gelo e passou provocativamente no pescoço e
nos seios. Depois, debruçou-se sobre Arlindo, alisou sua coxa direita e,
tocando os lábios em seu ouvido esquerdo murmurou:
- Amanhã, irmão querido, todos nós começaremos uma vida nova…
A loira disse esta frase enigmática e se retirou. O cruel Arlindo chegou a
pensar que sua irmã estava tão desequilibrada quanto o pai. Mas logo voltou
a entreter-se com um filme barato de TV, antes de mergulhar em um sono
profundo.
No hospital público, Adenaíra abria os olhos:
- Th-thiago… Pensei que tinha sido um sonho.
- Estou aqui. Estou te esperando… – A frase brotou sem nenhuma convicção.
- M-me esperando? – Perguntou a nova irmã de Jeitosinha.
- Sim. Você precisa lutar. Precisa superar esta doença. Vou estar ao seu
lado.
- Oh, Thiago! Você vai me dar uma chance?
- O tempo dirá. Por enquanto, prometo-lhe apenas minha atenção e minha
amizade.
Você não sabe como este simples fio de esperança me deixa feliz! – Disse a
moça, já com uma certa luz no rosto pálido pela febre.
Na manhã seguinte, Arlindo acordou no mesmo sofá onde bebera com
Jeitosinha. Mas estava cercado por policiais e algemado. No comando da
operação, a detetive Vanessa dirigiu-se a ele, mostrando no semblante a
realização pelo dever cumprido.
- Você está preso.
- M-mas… Eu não fiz nada! – Espantou-se o rapaz – Qual a acusação?
- Você tirou a vida de algúem!

Não! – O grito de Arlindo ecoou pela sala…

Quem morreu? Você tem até segunda para juntar as peças e entender o plano
de Jeitosinha! Não perca o próximo capítulo!

- Eu não matei papai!
Arlindo gritava com a convicção dos inocentes, mas a detetive Vanessa
estava impassível.
- Você vai explicar isso ao tribunal. Temos evidências mais do que
suficientes para prendê-lo.
- Quais? Quais são as evidências? – perguntou, inconformado.
- Seu pai amanheceu morto, e tudo indica que foi envenenado. Sua mãe
percebeu logo no começo da manhã e nos chamou. Enquanto você dormia,
procuramos pistas pela casa e encontramos no fundo de sua gaveta de cuecas
o frasco de um veneno muito eficaz…
- Não pode ser! – interrompeu o encrencado Arlindo – Alguém colocou isso lá
para me incriminar!
Vanessa sorriu, com sua frieza habitual.
- Não adianta, Arlindo… ?? melhor confessar. Você não contava com isso, mas
seu pai, prevendo o seu trágico destino, escreveu uma carta…
A moça fez um sinal com os dedos e um dos assistentes entregou-lhe o pedaço
de papel. Vanessa prosseguiu.
- Estava no bolso do pijama de Ambrósio. Veja o que diz: "Se alguém
encontrou esta carta, provavelmente já estarei morto. O fato é que recobrei
minha memória. Arlindo, meu filho mais velho, foi o responsável pela
primeira tentativa de acabar com Ambrósio. Ainda não sei o que farei, mas
como ele pode tentar de novo, deixo registrada esta denúncia. Arlindo nunca
me perdoou por uma grande surra que lhe dei em sua adolescência, e nunca me
perdoou por gostar mais de Jeitosinha. Percebendo que eu finalmente
começava a me lembrar de tudo, passou a me ameaçar. Tenho medo de procurar
a Polícia. Aliás, como tornei-me um monstro, não faz tanta diferença estar
vivo ou morto. Tudo o que desejo é que, caso dê cabo de minha vida, o cruel
Arlindo seja punido"… Ambrósio assina a carta. ?? claro que ainda faremos
um exame grafotécnico…
- Não pode ser! Este bilhete é forjado! Você verá! – disse o primogênito de
Ambrósio e Marilena.
- Há ainda uma terceira pista. – completou Vanessa – Existe este copo,
encontrado ao lado da cama do seu pai, com resíduos do mesmo veneno
encontrado em seu quarto, dissolvido em suco de groselha. Nele, há digitais
de duas pessoas diferentes.
"Sim!", pensou Arlindo. "Agora eu entendo! Foi Jeitosinha! Ela me serviu
uísque, ontem, neste mesmo copo. Como ela usava luvas, só as marcas de meus
dedos estão no vidro!".
Em pânico, e tremendo de ódio, Arlindo apontou para a irmã:
- Foi ela! Ela é uma farsa! Um travesti maníaco e a responsável por tudo
isso! A senhora ouviu, detetive, o próprio papai dizendo isso!
- Seu pai estava muito abalado. Este tipo de confusão é comum… Mesmo sem
querer, Jeitosinha era o pivô dos desentendimentos. Talvez por isso ele a
tenha visto em seu delírio. Agora… Que história é essa de travesti?
- Vanessa dirigiu a pergunta a Marilena.
- Arlindo está tentando confundi-la, detetive. – A mãe não perdeu a chance
de socorrer a filha naquele momento dramático.
- Quer comprovar? – Disse Jeitosinha, contando com a negativa de Vanessa.
- Não é preciso, querida. Sei bem como são os homens. Estão sempre tentando
encontrar algum defeito nas mulheres bonitas…
Vanessa dirigiu-se aos assistentes e ordenou:
- Levem-no. Vamos esperar o exame da letra no bilhete e das marcas no copo.
Você vai aguardar na cadeia o resultado, Arlindo. E caso se comprovem as
evidências, não sairá de lá tão cedo…
Debatendo-se e gritando, o cruel Arlindo foi recolhido ao camburão. Os
policiais deixaram a casa e Marilena finalmente demonstrou sua dor num
choro convulsivo. Na verdade sentia-se aliviada pelo fim de Ambrósio, mas
não se conformava com o fato de que um de seus filhos tivesse tirado a
vida do homem.

- Jeitosinha… Porque Arlindo tentou incriminá-la?
- Você sabe que ele me odeia, mamãe…
Jeitosinha estava calma e segura. Beijou suavemente o rosto de Marilena e
foi para o quarto, já pensando no próximo ato de seu circo de horrores.

Não perca os últimos capítulos da novela mais trash da web! Amanhã tem
capítulo inédito!

Alguns dias que se passaram desde a morte de Ambrósio. Adenaíra vinha se
recuperando da infecção hospitalar. Thiago a levara para sua casa e a
convivência era amigável. A moça se esforçava para transformar aquele
apartamento de solteiro em um lar, e o rapaz gostava de sua companhia. Mas
não conseguia esquecer Jeitosinha e ainda sentia um, digamos, "vazio por
dentro", se é que você me entende…

Como era de se esperar, os exames periciais confirmaram que tratava-se da
letra de Ambrósio no bilhete. Provaram também que as digitais eram mesmo de
Arlindo. Impotente diante da armadilha armada pela irmã, e diante das
péssimas condições da carceragem, o rapaz simplesmente enlouqueceu.

Na casa de Jeitosinha todos se esforçavam para retomar as rotinas de suas
vidas. Adenaíra escrevera, contando da operação e de como estava feliz em
sua nova condição. Omitira, entretanto, que era hóspede de Thiago. No
bordel de Madame Mary, Jeitosinha buscava superar a perda de seu amado nos
braços de Laura Croft.

O treinamento da loira continuava. Na penumbra de seu escritório, a
cafetina continuava instruindo Jeitosinha sobre os mistérios do amor e do
sexo, mas ainda eram apenas aulas teóricas, o que já estava deixando nossa
heroína impaciente.

- ??s vezes sinto que a senhora, deliberadamente, está adiando minha
estréia profissional – questionou um dia Jeitosinha.

Pela primeira vez, a sempre segura Madame Mary pareceu incomodada.
- Que bobagem, querida… Já lhe disse, tenho uma imagem a zelar… Tudo virá a
seu tempo.
Jeitosinha vinha se abrindo cada vez mais com a patroa. Chegou a confessar
o atentado com a serra-elétrica, o plano que incriminou Arlindo e o desejo
de se vingar da mãe. Madame Mary a tudo ouvia, sem emitir qualquer opinião.
Naquela tarde, entretanto, encontrou Jeitosinha mais fragilizada do que de
costume.

- O que houve, criança? – Perguntou a cafetina.
- Não sei o que está havendo comigo, Madame Mary… – Disse a loira, com a
voz embargada – Talvez seja a falta de Thiago, ou o remorso por ter tirado
a vida de meu pai… Mas o fato é que estou fraquejando. Começo a achar que
talvez mamãe não seja assim tão culpada pelo meu destino. Talvez seja a
maior das vítimas, preservando um segredo por tantos anos apenas para
poupar a todos da ira de Ambrósio.

- O que você quer dizer com isso? – perguntou Mary.
- Quero dizer que estou cansada de ódio e sofrimento. Vou buscar minha
felicidade. E começarei procurando mamãe e dizendo que a perdôo…

- Não creio que você precise procurá-la… – disse Madame Mary, num tom de
voz bastante familiar.
A mulher aproximou-se do fraco abajur que iluminava o escritório. Com
lágrimas banhando o rosto, retirou sua máscara…

- Mamãe? ?? você! Não pode ser!
- Claro que sou eu, querida… Você acha que com o salário de contínuo do seu
pai conseguiríamos criar sete filhos e ainda comprar pra você a coleção
completa da Barbie?

- Então é por isso que o meu treinamento nunca terminou! Você não queria
vender a dignidade da própria filha!
- Sim… Este foi apenas um dos muitos sacrifícios que fiz por você. Fui eu
quem joguei fora os restos mortais de Ambrósio e limpei a bagunça da sala…
O telefonema e o bilhete falando da pescaria também foram invenções minhas.

- Então… Papai realmente havia morrido? – espantou-se.
- Sim! Só não me pergunte como ele voltou à vida. Talvez tenha sido um
milagre dos céus para poupá-la, Jeitosinha. Você já havia sofrido demais, e
aquele plano da serra-elétrica era simplesmente ridículo… Você deixou suas
digitais espalhadas pela casa inteira! O segundo crime foi muito mais
requintado, e ainda puniu o chantagista do Arlindo!

Jeitosinha abraçou a mãe, emocionada (Imagine uma música melosa, executada
por um naipe de violinos…). Finalmente, quase tudo parecia se encaixar. Era
um novo tempo de recomeço. De repente Jeitosinha percebeu que o bordel
nunca fora seu lugar. O que de fato a atraía era o magnetismo de Madame
Mary, que não era ninguém menos que Marilena.

Não fosse a saudade que sentia de Thiago, tudo estaria perfeito em sua
vida. No final daquela tarde, Jeitosinha se despediu das colegas de bordel.
- Vou tirar um tempo para mim. Preciso repensar minha vida… Talvez volte a
esta casa como auxiliar de mamãe, não sei… O importante é que fiz muitos
amigos aqui…

Laura Croft chorava copiosamente.
Está tudo acabado entre nós?
- Sim, Laura… Não adianta. Thiago é o meu único amor. Preciso esquecê-lo
antes de poder recomeçar com outra pessoa…

Laura pareceu entender. Tanto que deu a Jeitosinha um conselho bem prático:
- Se você o ama tanta, porque não tenta uma reaproximação? Tudo bem, ele
pensa que você é uma de nós, mas você, em contrapartida, flagrou-o nos
braços da Kátia Trovoada…

Kátia, o traveco moreno que possuiu Thiago, espantou-se:
- Aquele era o seu bofe? Ih, menina… Você está sofrendo à toa…
- Como assim? – surpreendeu-se Jeitosinha.
E Kátia começou a narrar o diálogo que ela e Thiago tiveram antes do ato de
amor…

Finalmente está acabando! Não perca os últimos capítulos… Amanhã tem mais!"
#

- O que Thiago lhe disse de tão importante aquela noite? – Perguntou
Jeitosinha, ansiosa, ao travesti Kátia Trovoada.

- Bom, menina… Ele chegou aqui todo sem gracinha. Estava bem bêbado, mas
nem por isso perdeu a timidez…

- Sim… E então? – A loira mal controlava suas emoções.

- Então eu perguntei como ele queria, e coisa e tal… Ele me disse que era a
sua primeira vez num lugar como esse, e provavelmente a última…

- O que mais?

- Bem, ele disse que não estava à vontade, mas que precisava se colocar a
teste… Por amor. Na ocasião não entendi nada, pensei que era coisa de
bêbado, mas agora entendo…

Os olhos de Jeitosinha brilharam:
- Sim! Como não pensei nisso antes? Ele queria saber se conseguiria se
adaptar ao meu estranho jeito de amá-lo!

- Ah, Santa… Carinha de quem estava se adaptando ele fez… – emendou Kátia,
com um gesto afetado.
- Vou procurá-lo agora mesmo!

Enquanto Jeitosinha corria para os braços de seu amado, Thiago dava um
ponto final em sua relação com Adenaíra. Foi uma longa conversa, que
terminou num clima cordial.

- Não me leve a mal… Pensei que pudesse esquecer Jeitosinha, mas… ??
impossível. De alguma maneira, sinto que quando estou com ela tudo parece
se encaixar…

- Se eu tivesse sabido antes não teria quebrado o pino do meu Lego… –
lamentou Adenaíra – De qualquer forma, devo-lhe minha vida. Sou grata pelos
dias que passamos juntos e pelos seus cuidados. Espero que um dia você e
Jeitosinha possam voltar a se entender…

- Não creio ser possível… – Que segredo você guarda sobre ela? Existe algo
mais, além da particularidade anatômica?

- Não me force a dizer. Só lhe adianto que sua irmã não é quem parece ser…
Neste momento a porta da sala se abre, de forma dramática.

- Sim, Thiago… Sim, meu amor! Sou sua Jeitosinha! Jamais fui tocada por
outro homem que não você!
?? claro que àquela altura do campeonato, falar sobre Laura Croft era
perfeitamente dispensável. Aliás, ela era uma mulher…

- Não pode ser … Eu vi você naquele local deplorável!
- Eu vinha sendo chantageado por Arlindo… Mas não cheguei a entrar em ação!
?? uma longa história meu amor…

Thiago começou a se despir de sua casca de rancor.
- Eu… eu também só fui lá naquele dia porque…
- Eu já sei… Esqueça, Thiago… Não diga nada… Apenas me beije!
Cabisbaixa, Adenaíra deixou o apartamento de Thiago e seguiu a esmo pelas
ruas escuras da cidade.
Jeitosinha e seu homem se amaram loucamente, como estavam predestinados a
fazer por muitos e muitos anos.

Não muito longe dali, uma nave espacial alienígena pousava no matagal.
- Porque voltamos, chefe? – Perguntou uma das criaturas verdes.
- Veja com seus próprios olhos! Compramos gato por lebre!
O ET entregou ao colega um exemplar de uma popular revista de mulher pelada.
- Ué… Aquela moça que trouxemos à nave tinha um detalhe a mais…
- Claro! Era um homem disfarçado!
- Como o senhor descobriu?
- Bem, já tínhamos até saído desta galáxia quando resolvi folhear umas
revistas que levei de recordação deste planetinha atrasado. Foi aí que me
deparei com estas fotos de mulheres nuas e percebi tudo: as fêmeas daqui
são, aparentemente, exatamente como as nossas! Tudo indica que estão
prontas para reproduzir nossos filhos!
- Que beleza, chefe! O que faremos?
- O óbvio: pegaremos uma outra mulher, nos certificaremos de que ela não
tem nenhum complemento indesejável e voltaremos às nossas experiências!
- Então aproveita, chefe… – disse um dos homens verdes, olhando pela
escotilha – Vem uma gatona ali!
E foi assim que Adenaíra acabou nas mãos dos extraterrestres. Por mais que
os cientistas do outro mundo se esforçassem, continuariam sem entender o
mecanismo de reprodução dos humanos.

Adenaíra nunca mais foi vista. E como Jeitosinha preferiu guardar segredo
sobre sua experiência com os Ets, o planeta Terra nunca soube que duas
irmãs, numa surpreendente manobra do destino, acabaram salvando a
humanidade.

Hoje, quem vê na missa dominical Jeitosinha e Thiago, com suas lindas
crianças adotadas, nem imagina que por trás daquela aparente normalidade
repousa um segredo e uma história surpreendente.

E se você acha que os homenzinhos verdes são a parte mais absurda desta
saga, é porque não viram Jeitosinha e Thiago em seus momentos de intimidade…

FIM #

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caso tenha alguma dificuldade me envie um e-mail.
obrigado.
nelson antunes

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